Título: Crescimento movido a consumo
Autor: Almeida, Cássia; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 13/03/2008, Economia, p. 25

PIBÃO EM DIA DE PACOTINHO

Economia do país avançou 5,4% em 2007, impulsionada pelo mercado interno.

Movida a crédito, emprego, salário e investimento, a economia brasileira voltou a registrar recordes em 2007. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos no país) foi de 5,4%, e a renda per capita subiu 4%, os maiores saltos desde 2004, conforme informou ontem o IBGE. A economia brasileira gerou R$2,6 trilhões de riqueza no ano passado, o que, dividido pela população, significou uma renda per capita de R$13.515.

- A expansão foi puxada pelo mercado interno. O consumo das famílias, que responde por 60% do PIB (o equivalente a R$1,557 trilhão), subiu 6,5% em 2007. É o quarto ano seguido de alta e a maior registrada desde 1996. O aumento do crédito, do rendimento e do emprego explicam esse comportamento - disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE.

Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, afirma que, apesar de a taxa ser semelhante à de 2004, o perfil do crescimento foi diferente:

- Em 2004, o país teve uma participação ainda importante das exportações, com o consumo das famílias tendo um papel menor. Em 2007, o crescimento foi todo puxado pelo mercado interno.

Com o consumo das famílias, o investimento foi outro destaque nas contas nacionais de 2007. A alta de 13,4% foi a maior desde 1996, o que elevou a taxa de investimento do país em relação ao PIB ao maior patamar desde 2000 (17,6%).

Na análise dos setores de produção, a agropecuária obteve o maior crescimento, de 5,3%, depois de já ter crescido 4,2% em 2006. As lavouras de trigo, milho, cana-de-açúcar e soja responderam pelo avanço, que ficou concentrado na agricultura. A pecuária pesou pouco.

A indústria acelerou bastante sua expansão de um ano para o outro. Em 2007, a atividade cresceu 4,9%, contra 2,9% no ano anterior. Com exceção da extrativa-mineral, a indústria de transformação, da construção civil e de infra-estrutura (energia elétrica, água e gás) cresceram 5% cada.

- Houve aumento forte do consumo de energia, inclusive residencial. Mas a demanda por gás ficou menor - afirmou Rebeca.

Os setores financeiro e de informação lideraram a expansão no setor de serviços. Na intermediação financeira, o aumento da oferta de crédito teve impacto direto na atividade, fazendo o setor registrar a maior expansão entre as atividades: 13%. Logo atrás vieram os serviços de informação, com alta de 8%, puxada por informática e telefonia celular, segundo Rebeca, do IBGE. As atividades de administração, saúde e educação pública tiveram o pior desempenho no ano entre os serviços, de 0,9%:

- O censo escolar veio ruim e a administração pública cresceu pouco.

Ernani Torres, superintendente da área de pesquisa do BNDES, diz que a média do crescimento vem aumentando ano a ano. Pelas contas do economista, o Brasil atravessa o mais longo período de expansão dos últimos 30 anos, com 24 trimestres seguidos de alta:

- O país está passando por um processo vigoroso de crescimento, sem os fantasmas da inflação e do setor externo.

Ele prevê que a economia continuará crescendo entre 5% e 6% nos próximos dois anos e que a manutenção dessa expansão dependerá de uma agenda que inclui nível de importação, câmbio, qualificação da mão-de-obra e investimento em tecnologia.

Renda "per capita" perto do "milagre"

No quarto trimestre, a expansão acelerou ainda mais, chegando a 6,2%, a segunda maior taxa desde 2004. O consumo das famílias e a agropecuária, com a mesma taxa de 8,6%, lideraram a expansão no fim do ano. Frente ao trimestre anterior, a alta foi de 1,6%, o que daria um crescimento anualizado de 6,6%.

Os números da economia se aproximaram do período do milagre econômico no que se refere ao PIB per capita. Ao registrar alta de 4% em 2007, o país superou à média da época do milagre. A comparação estatística é do economista Armando Castelar, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que usou como base o período de 1950 a 1980, quando a média do avanço do PIB per capita era de 3,9%. Em meados da década de 70 período do "milagre econômico", quando o país combinava alto índice de crescimento com taxas declinantes de inflação - o PIB per capita chegou a subir 11,07%, em 1973, enquanto a economia do país avançou 13,97%.

- Estamos no caminho certo. Só que ainda é cedo para garantir se vamos conseguir sustentar essas taxas por muitos anos, como ocorreu no período do milagre - ponderou Castelar, comentando que a comparação é possível hoje porque a população brasileira cresce em média 1,4% ao ano, contra um crescimento médio de 2,5% dos anos 70.