Título: Crédito farto e renda maior fazem consumo das famílias crescer 6,5%
Autor: Rodrigues, Luciana; Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 13/03/2008, Economia, p. 26

PIBÃO EM DIA DE PACOTINHO: Alta foi a maior da série histórica, iniciada em 96.

Taxa acelerou ao longo do ano e, no último trimestre, alcançou 8,6%.

Com crédito farto e renda em alta, o consumo das famílias brasileiras cresceu pelo quarto ano seguido em 2007. A expansão, de 6,5%, foi a maior desde o início da atual série do IBGE, em 1996. Em 1995, logo após o início do Plano Real e pelos dados com a metodologia antiga do PIB, o consumo das famílias avançou 8,6%.

Na casa de Pedro e Márcia Ribeiro, os gastos em 2007 superaram os de 2006 e, ainda assim, deu para economizar mais. O consumo familiar cresceu cerca de 40%, mas o dermatologista e a analista judiciária conseguiram poupar 20% mais. Além de duas viagens - uma à Argentina e outra ao Rio Grande do Norte -, eles reformaram o quarto de uma das filhas, Maria Eduarda, de 8 anos. A obra custou R$8 mil e, nesse caso, por se tratar de construção civil, entrou nas estatísticas do PIB como investimento.

- No fim das contas, gastamos bem mais que em 2006 - contou Márcia, cuja renda mensal, somada com a do marido, chega a R$20 mil.

Segundo o IBGE, a expansão do consumo se deveu ao crescimento de 28,8% nas operações de crédito e ao ganho real de 3,6% no total de salários recebidos pelos trabalhadores.

Analista não vê risco de pressão inflacionária

Além de recorde, o consumo das famílias acelerou ao longo de 2007. Começou o ano a um ritmo de 5,7%, frente a igual trimestre de 2006. Entre outubro e dezembro, a taxa subiu para 8,6%. O resultado surpreendeu analistas e levantou temores de que o Banco Central vá subir juros para frear a demanda. Mas, para Francisco Faria, da LCA Consultores, a forte expansão dos investimentos afasta os riscos de pressões inflacionárias.

- Ninguém questiona que o consumo está crescendo de forma acelerada. Mas alguns analistas duvidam se isso é sustentável. Na nossa visão, não há motivos para preocupação. Basta ver os investimentos.

Na família da professora Karine de Oliveira e do funcionário da Petrobras Frederico Santos, com renda mensal de cerca de R$5 mil, o ano passado foi de investimentos. O casal tomou um financiamento de R$20 mil e comprou um apartamento de dois quartos, por R$130 mil, em Vila Isabel.

- Tínhamos receio de fazer o empréstimo. Mas, agora, com a estabilidade da economia, dá para se endividar sem medo - disse Karine.