Título: Importações em alta freiam expansão do país
Autor: Novo, Aguinaldo; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 13/03/2008, Economia, p. 32

Sem tantas compras no exterior, PIB cresceria 6,9%. Brasil precisou de R$4,5 bi para fechar contas.

Pelo segundo ano seguido, o setor externo teve participação negativa no Produto Interno Bruto (PIB). Em 2007, enquanto o mercado interno cresceu 6,9%, o setor externo apresentou redução de 1,4%. Com isso, a expansão do PIB ficou em 5,4%. Em 2006, esse fenômeno também já havia acontecido, segundo o IBGE. O crescimento das importações num nível muito superior ao das exportações explica a participação negativa da demanda externa no PIB. O aumento de 20,7% das importações é o reflexo mais óbvio da valorização do real, segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE:

- Do ponto de vista do investimento, temos um crescimento de cerca de 20% tanto da importação de máquinas e equipamentos como da produção, o que acaba aumentando a capacidade produtiva do país. Um reflexo positivo da valorização do real.

Em 2005, apesar de menor, a demanda externa ainda teve participação positiva na economia brasileira.

Nas contas externas, pela primeira vez desde 2002, houve necessidade de financiamento. A alta das importações e o aumento das remessas de lucros e dividendos para o exterior, emitidas pelas empresas estrangeiras instaladas no país, acabaram levando o país a acumular uma necessidade de financiamento externo de R$4,532 bilhões, em 2007.

Remessa de lucros cresceu R$5 bilhões em 2007

É a primeira vez no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o país fecha o ano com esse tipo necessidade. Em 2006, o país teve sobra nas contas externas de R$20,8 bilhões. Em 2002, o déficit ficou no valor de R$29,9 bilhões.

- Esses dados indicam que o país está precisando de empréstimos para se financiar - disse a economista da coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, comentando que o governo tem duas alternativas para zerar essa conta: queima das reservas ou financiamento externo.

O economista Armando Castelar, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), não vê esse dado como preocupante, já que o país fechou o ano com crescimento de 5,4%, o que significou a preços de mercado R$2,5 trilhões.

A necessidade de financiamento do país só não foi maior porque a remessa de juros para pagamento da dívida externa diminuiu R$10,5 bilhões. Em compensação, as remessas líquidas de lucros e dividendos aumentou R$5,3 bilhões, no ano passado.

Mas, o principal fator de déficit nas contas com o resto do mundo veio da redução no saldo da balança comercial. Ele caiu de R$68,1 bilhões para R$39,1 bilhões, deixando de compensar o envio de lucros, dividendos e pagamento de juros.

- O saldo menor na balança explica a maior parte dessa necessidade de financiamento - disse Claudia.