Título: Especialistas não esperam queda do dólar
Autor: Duarte, Patrícia; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 13/03/2008, Economia, p. 34

Para exportadores, vendas não aumentarão. Ex-diretor do BC diz que atratividade do país se manterá.

O pacote de medidas para evitar o "derretimento do dólar", nas palavras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderá deixar o mercado de câmbio mais livre, na opinião de especialistas. Mas não deverá ter grandes efeitos sobre a cotação da moeda. Para a economista-chefe do Banco Real, Zeina Latif, mesmo com o fim da cobertura cambial - que obrigava o investidor a trazer, para o Brasil, ao menos 70% das receitas obtidas com vendas ao exterior - o exportador continuará trazendo seus recursos para o Brasil:

- Há um ganho financeiro nisso, já que ele faz aplicações no Brasil com taxas de juros.

Já o fim da cobrança do IOF sobre as vendas ao exterior foi bem visto pelo vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Mas ele não acredita que a medida venha a se traduzir em preços menores e maior atratividade para os produtos nacionais. Nas contas de Mantega, o impacto será de R$2,2 bilhões.

- Na prática, é uma redução de 0,38% (cobrança do IOF, sem operações de Adiantamento de Contrato de Câmbio). Mesmo sabendo que nossas expectativas estão defasadas, esperamos superávit de US$30 milhões, com exportações de US$169 milhões - diz Castro, para quem não há medida pontual que o governo possa adotar para conter a desvalorização do dólar. - Não estamos pleiteando o fim do câmbio livre no país. As medidas são positivas porque deixam o mercado menos regulado. Mas precisamos de custo financeiro menor para exportar, melhor infra-estrutura portuária e facilidades na movimentação de capital.

Para o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, a cobrança do IOF de 1,5% sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa - a terceira medida anunciada - é equivalente à volta da cobrança do Imposto de Renda, extinta em 2006. Na prática, calcula, ela vai reduzir o ganho do investidor em cerca de 15%.

- O investidor passa a ganhar um pouco menos, mas não vai deixar de aplicar aqui. Hoje, o Brasil só concorre com a Turquia em termos de rentabilidade, mas ela não tem nossa capacidade de pagamento. O grande ponto é que introduzir o IOF soa como uma ampliação do leque de medidas anunciadas no início do ano, quando passou a ser cobrado o imposto também sobre operações de crédito. Já a volta do IR seria uma mudança de regras, o que é ruim - diz.

Em janeiro deste ano, o volume de recursos estrangeiros aplicados em títulos públicos do país foi de US$1,7 bilhão. No ano passado, o total chegou a US$20 bilhões, quase o dobro dos US$11 bilhões de 2006.

Desvalorização do dólar é mundial, lembra economista

Para o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, "não há muito o que inventar" para conter a desvalorização do dólar:

- O fato de o governo ter elevado a receita fiscal e não ter mexido no superávit primário é o que mais dificulta a queda de juros e provoca mais entradas.

Já Zeina Latif, do Real, não credita a desvalorização do câmbio aos investimentos estrangeiros em títulos nacionais:

- Quando estes investimentos ficaram isentos do IR, houve um fluxo grande não só para renda fixa mas também para a Bolsa. Há uma dinâmica atrelada ao cenário internacional, e medidas domésticas não são muito relevantes. Se fossem, os bancos centrais de todo o mundo já teriam feito ações coordenadas para evitar a depreciação do dólar.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, as ações anunciadas pelo governo "são positivas mas de efeito limitado". Ele defendeu que a questão do câmbio passe pela redução dos juros básicos, hoje em 11,25% ao ano.