Título: Condoleezza pressionará Brasil contra as Farc
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/03/2008, O Mundo, p. 39

Secretária de Estado dos EUA pedirá a Lula mais apoio a Uribe e liderança regional para o combate à guerrilha.

WASHINGTON. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, começa hoje por Brasília uma visita de dois dias ao país que incluirá também Salvador. A viagem estava programada há vários meses e previa apenas a assinatura de um pacto Brasil-EUA contra a discriminação racial. Mas, agora, servirá também para um apelo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: que apóie mais firmemente o presidente Alvaro Uribe a combater as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e ajude a convencer os seus demais vizinhos a fazerem o mesmo.

Ao falar a respeito, ontem, o secretário de Estado assistente para o continente americano, Thomas Shannon, disse que a disputa entre a Colômbia e o Equador poderá ser resolvida em curto prazo, através de ações diplomáticas da Organização dos Estados Americanos (OEA). Há, porém, um objetivo maior, segundo ele:

- A questão agora é fazer com que as democracias protejam os Estados democráticos, e também conseguir com que elas sejam solidárias entre si no enfrentamento de organizações como as Farc - ressaltou.

Para Washington, "atores não-estatais" são novo desafio

Segundo Shannon, é preciso haver daqui por diante "um novo entendimento", que combine a antiga estrutura da OEA - que cuida da proteção da integridade territorial e da soberania, além da administração de conflitos entre países - com o novo desafio das ameaças apresentadas "por atores transnacionais ou não-estatais, como as Farc".

Perguntado se os EUA vêem como branda a posição do Brasil em relação às Farc - pois, ao contrário do governo americano, o brasileiro não considera esse grupo como terrorista - Shannon foi evasivo. Ele respondeu num tom irônico:

- A minha experiência com o Brasil é que o governo brasileiro é muito duro com as Farc quando as Farc entram no Brasil...

Condoleezza deverá dizer a Lula e ao chanceler Celso Amorim que chegou o momento de a região encarar, por meio da OEA, a "causa principal" da disputa:

- Trata-se da forma como as Farc têm utilizado áreas de fronteira em benefício próprio, como refúgios ou bases de operações, sem respeitar a soberania dos países envolvidos. Esse é o maior desafio da OEA, e o assunto será discutido (em Brasília) como parte de um apanhado mais amplo sobre a região - disse Shannon.

EUA justificam ataque colombiano no Equador

Ele deixou transparecer claramente que o fato de tropas da Colômbia terem cruzado a fronteira, entrando no Equador para atacar guerrilheiros das Farc semanas atrás, não causou espanto ao governo americano - praticamente justificando tal ato como um último recurso, diante do que chamou de falta de cooperação do país vizinho.

- A Colômbia deixou muito claro que isso não é uma coisa que queira fazer. Na verdade, o presidente Uribe disse que não fará isso, contanto que possa contar com a assistência e ajuda de seus vizinhos para enfrentar a ameaça - endossou Shannon.

Aparentemente, aos olhos dos EUA seria justificável a repetição daquela atitude de Uribe, diante da inércia dos países ao seu redor:

- Por mais que algumas pessoas possam estar contrariadas com o que a Colômbia fez, acho que há o reconhecimento de que, para que isso não volte a acontecer, a responsabilidade é tanto dos vizinhos da Colômbia, quanto da Colômbia. À medida que eles ajudem a Colômbia a se proteger contra uma ameaça à sua democracia, o seu governo (de Bogotá) não violará as fronteiras dos vizinhos - disse o secretário de Estado assistente.