Título: Monges sofrem onda de repressão no Tibete
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 13/03/2008, O Mundo, p. 40

Cerca de 300 tibetanos são presos por policiais chineses em dois dias, agravando tensão antes das Olimpíadas.

PEQUIM. O Ministério das Relações Exteriores da China confirmou ontem que cerca de 300 monges tibetanos estão presos em Lhasa desde segunda-feira após uma manifestação em memória pelo 49º aniversário do levante popular e religioso que, em 10 de março de 1959, tentou decretar a independência do Tibete. Ontem, centenas de monges foram reprimidos com cassetetes e gás lacrimogêneo ao exigirem a libertação dos companheiros diante da prisão, agravando a tensão na região, poucos meses antes das Olimpíadas de Pequim.

A marcha dos monges pelas ruas de Lhasa, pedindo liberdade para os religiosos presos na China, foi a maior manifestação pública no Tibete desde 1989, quando Pequim decretou lei marcial na região após protestos. Na época, o governador do Tibete nomeado pelo Partido Comunista da China era o hoje presidente do país, Hu Jintao.

O protesto foi apenas um em meio a manifestações que aumentam com a proximidade das Olimpíadas, em agosto. Nos últimos dois dias, houve protestos na China, na Índia e também de monges budistas no Nepal, país que faz fronteira com o Tibete.

O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Qin Gang, afirmou que nenhum país no mundo reconhece o Tibete como Estado independente e que os monges presos em Lhasa ameaçam a ¿segurança nacional¿:

¿ Alguns monges ignorantes, liderados por um pequeno grupo, cometeram um ato ilegal que pode ameaçar a estabilidade social. Para garantir a segurança do país é responsabilidade de nossos sistemas Judiciário e policial proteger a região. Continuaremos a combater atividades ilegais. E tentativas de distorcer fatos ou tentar ligar o Tibete às Olimpíadas, politizando os Jogos, são pouco inteligente.

Dalai Lama denuncia violação dos direitos humanos

O Dalai Lama, que nos últimos anos tem adotado uma postura mais conciliadora em relação a Pequim, fez declarações fortes ao saber das ações policiais no Tibete.

¿ Há enormes e inimagináveis violações dos direitos humanos cometidas pela China no Tibete ¿ disse o prêmio Nobel de 1989, em Dharamsala, na Índia, sede do governo no exílio.

Sábado, ele negara que estivesse tentando sabotar as Olimpíadas, acusação feita pelo governo da China. Mas, ontem, denunciou a onda repressiva:

¿ A repressão continua a aumentar, com violações aos direitos humanos, à liberdade religiosa e a politização de questões espirituais. Por quase seis décadas os tibetanos têm que viver num estado de constante medo sob a repressão chinesa.