Título: Faça valer o seu voto
Autor: Paredes, José Roberto
Fonte: O Globo, 14/03/2008, Opinião, p. 7
Entra agora em sua fase nacional a campanha "O que você tem a ver com a corrupção?", lançada embrionariamente pelo Ministério Público de Santa Catarina em agosto de 2004.
O objetivo principal dessa iniciativa conjunta do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União, e da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, é chamar a atenção de todos para o que cada um, como cidadão, pode fazer para ajudar a sociedade brasileira a se livrar dessa doença que se propaga como câncer, e destrói não só nosso patrimônio material, mas também, e mais danosamente, nossas reservas morais, nossa capacidade de criar um ambiente social harmonioso e próspero fundado na confiança recíproca, e nossa disposição coletiva de sonhar com dias melhores e construir um futuro digno. É mais atual do que nunca o alerta de Martin Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."
Em ano eleitoral, vem a propósito lembrar a importância do voto consciente como ferramenta de combate à corrupção endêmica, noticiada, diariamente, pela mídia. Velar pelo princípio da moralidade, na análise das candidaturas e sua eventual impugnação, como uma das condições de elegibilidade, é extremamente relevante, principalmente considerando-se as garantias constitucionais conferidas à função legislativa.
Também é preciso que os jovens - em especial os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos cujo voto é facultativo - comecem a se interessar pelo tema e a participar desse processo. A indiferença só contribui para agravar o quadro e projetar um futuro ainda mais preocupante; e reclamar sem fazer força para mudar a situação é atitude comodista. Aqui, devemos recordar Madre Teresa de Calcutá: "Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota!"
Nunca é demais ressaltar que o voto consciente começa bem antes do momento da votação na urna eletrônica, e resulta de um longo e indispensável exercício de atenção, de curiosidade, de saudável desconfiança. Cada eleitor precisa, até mesmo como ato de legítima defesa, dar-se ao trabalho de verificar se o discurso desprendido e otimista desse ou daquele candidato rima com os fatos da sua biografia, se suas promessas são compatíveis com as possibilidades do cargo que disputa, se tem qualificações pessoais e profissionais para exercer o poder e assumir o controle dos negócios públicos. Em outras palavras, se a fachada de probidade, decência e dinamismo não seria apenas um ardil para obter acesso privilegiado a verbas e mordomias e às imunidades do cargo.
Arma incomparável da cidadania, o voto requer treinamento e manejo consciente para ter eficácia, sob pena de voltar-se contra o votante causando-lhe danos irreparáveis. Juntemo-nos, portanto, ao esforço nacional contra a corrupção evitando depositar irresponsavelmente esse poderoso instrumento do arsenal democrático nas mãos dos inimigos do bem comum.
JOSÉ ROBERTO PAREDES é procurador de Justiça.