Título: Vamos trabalhar para que haja mais sensibilidade
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 14/03/2008, O País, p. 9

FRONTEIRAS DA DIPLOMACIA: Expulsões serão analisadas.

Espanha tenta acabar com crise criada por repatriações.

A secretária de Estado para Iberoamérica, Trinidad Jiménez, cargo criado há menos de dois anos pelo governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero, é uma das principais intermediárias nesta crise diplomática entre Brasil e Espanha. Ela vem se reunindo quase que diariamente com o embaixador do Brasil em Madri, José Viegas, para tentar solucionar a crise diplomática aberta entre ambos os países. Ela afirma que não haverá flexibilização no controle de fronteiras, mas sim mais cuidado para evitar que as injustiças se repitam.

Priscila Guilayn

O que foi acordado na reunião entre a senhora e o embaixador José Viegas?

TRINIDAD JIMÉNEZ: A intenção dessas reuniões é analisar cada um dos casos de inadmissões de brasileiros desses último dias e para saber as queixas feitas pelos brasileiros inadmitidos. Os dois governos são muito amigos. Temos simpatia um pelo outro, e por isso nossa intenção é normalizar a qualidade dos nossos intercâmbios.

Foram normalizadas?

JIMÉNEZ: Esta é a vontade de ambos os governos. O ministro Amorim usou a palavra trégua para se referir ao momento atual entre os dois governos.

Há uma trégua nas repatriações de brasileiros e espanhóis?

JIMÉNEZ: Não... O que aconteceu é que o governo espanhol se comprometeu a tratar com o máximo cuidado e sensibilidade os casos, para que não aconteçam situações errôneas. Para isso, convocaremos uma reunião entre os governos para estabelecer uma comissão mista de comunicação permanente para que haja transparência total.

Ou seja, as regras não mudarão?

JIMÉNEZ: Ambos os governos estão comprometidos em respeitar os requisitos e as condições de entrada. Ao mesmo tempo, vamos trabalhar para que haja uma maior sensibilidade na hora de receber os cidadãos brasileiros na Espanha e os espanhóis no Brasil.

Vai haver mais flexibilidade? Se com alguns documentos já for possível provar que o brasileiro não tem intenção de morar irregularmente na Espanha, a polícia vai aceitar que ele não cumpra outros requisitos?

JIMÉNEZ: A norma européia deixa claro que, quando não se cumprem os requisitos exigidos, a pessoa não pode ser admitida. Mas garanto que o especial vínculo afetivo que temos com países latino-americanos faz com que sejamos bem mais flexíveis, comparado com outras regiões.

Mas já houve casos nos quais foi evidente uma falta de flexibilidade e injustiça...

JIMÉNEZ: Exatamente. Não queremos que casos isolados, um em cem, causem uma má imagem nossa. Somos os primeiros a ter o maior interesse que o tratamento na fronteira seja exemplar. E por isso trataremos com mais sensibilidade.

O que significa tratar com mais sensibilidade?

JIMÉNEZ: Aumentamos, por exemplo, os efetivos de policiais de controle e queremos que tudo seja feito da melhor maneira possível. Além disso, criamos uma chamada linha "caliente", que já está funcionando, entre o consulado-geral do Brasil e o Ministério de Interior, para evitar que as injustiças se repitam.

A senhora vê como represália a devolução de espanhóis no Brasil?

JIMÉNEZ: As autoridades brasileiras me disseram que esses espanhóis não cumpriam os requisitos. Se eu estou tratando com um país amigo, democrático, aliado estratégico, eu aceito a explicação. Examino os casos, mas não coloco em questão o tratamento dado. São decisões soberanas. Cada país impõe suas condições de entrada.

Os espanhóis entraram com alguma ação contra o governo brasileiro?

JIMÉNEZ: Por enquanto não.

Esta crise está chegando ao fim?

JIMÉNEZ: Sim. Foi uma situação conjuntural de uma semana.