Título: Délio concedeu auxílio-educação irregular
Autor: Rocha, Carla; Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 14/03/2008, Rio, p. 12

Ex-corregedor da Alerj, que deixou o cargo, tem pelo menos três processos sob suspeita.

Ao ter o seu nome envolvido no escândalo da contratação de funcionários fantasmas na Alerj, o deputado Délio Leal (PMDB), ex-corregedor da Casa, despediu-se do cargo afirmando que saía para não prejudicar as investigações. Peemedebista histórico, ele não entrou na lista dos cassáveis porque nomeou, mas, 15 dias depois, exonerou a dona-de-casa Maria Couto, de 42 anos e mãe de 12 filhos, o que teria evitado a fraude. No entanto, a lista de funcionários do deputado, que continua sendo investigado pelo Conselho de Ética, revela irregularidades nos processos de concessão do benefícios no gabinete do parlamentar. Diante da suspeita de falsificação de declarações supostamente emitidas por sua unidade de Paracambi, o Colégio Cenecista abriu inquérito administrativo e denunciou o caso à Delegacia de Defraudações.

Entre alguns casos que chamam a atenção, está o de Marcos Aurélio Teixeira. Nomeado em fevereiro do ano passado como assessor adjunto de Délio, ele tem quatro filhos que, segundo a declaração que apresentou à Alerj para receber o auxílio-educação, estudavam no Colégio Cenecista Paracambi (Cnec) em 2007. O valor de cada auxílio-educação é de R$450. A escola, no entanto, nega que as crianças tenham sido matriculadas.

Servidores dão como endereço casa de assessor do deputado

O próprio Marcos, que ontem não apareceu para trabalhar na Alerj, admite que duas filhas suas nunca freqüentaram o Cnec. Uma por ser muito pequena e outra por ser portadora de deficiência.

¿ Os dois meninos estudaram no Cnec, mas já foram transferidos e tenho como provar. Hoje, eles estão matriculados em outra escola particular. As duas meninas não estudaram no Cnec. Não sei o motivo de os nomes delas aparecerem na declaração do Cnec ¿ disse Marcos Aurélio, admitindo que ele próprio entregou a declaração do colégio à Alerj.

Dois outros processos do gabinete de Délio dizem respeito aos servidores Douglas Ferreira Tibúrcio e Flávio Batista da Silva, ambos com cinco filhos. Pelos documentos, as crianças também estudariam no Colégio Cenecista de Paracambi, reduto eleitoral do ex-corregedor, mas a direção da instituição, mais uma vez, garante que essas matrículas nunca foram feitas. Além disso, o endereço dos servidores declarado no processo é o mesmo e, curiosamente, nenhum dos dois mora lá. O dono da casa é, na verdade, João Bosco, chefe de gabinete de Délio. Ontem, Bosco foi localizado, mas não retornou a ligação para comentar o fato. O deputado não foi encontrado.

Há indícios fortes de fraude documental. A secretária do Colégio Cenecista de Paracambi, Elza Neves, afirmou ao GLOBO que João Orcício Neves, que assina como diretor da escola as declarações com data de 2007, está aposentado desde 2005, por problemas de saúde. O nome dele também é grafado errado no documento: João Orácio Neves, sem o Orcício, um sobrenome de origem italiana. Elza conhece bem João Orcício: ela é casada com ele.

¿ Meu marido está aposentado desde 2005. Coitado dele ¿ disse.

Pai não quis informar escola em que filhos estariam matriculados

Segundo Andréa Guerreiro, advogada da rede de colégios Cenecistas no Rio, que tem 47 unidades no estado, inquéritos administrativos foram abertos para apurar irregularidades em Paracambi e também em Imbariê, relacionadas a declarações fornecidas para servidores de outro deputado, Marco Figueiredo (PSC). Foram solicitadas cópias das declarações sob suspeita à Alerj.

¿ Em Imbariê, foram falsificados a assinatura da secretária, o carimbo e o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) do colégio ¿ disse Andréa.

Por último, ainda há um processo em nome de Israel do Nascimento, nomeado auxiliar administrativo do gabinete de Délio Leal em fevereiro do ano passado. Pai de cinco filhos, ele, ao ser localizado pelo GLOBO, se complicou para informar em que escolas particulares os filhos estão matriculados.

¿ Eles foram transferidos do colégio que consta no processo para outros, mas não vou informar nada por telefone ¿ limitou-se a dizer.

Por dois dias, o jornal aguardou uma resposta do Colégio Marechal Hermes, onde as crianças deveriam estar estudando, de acordo com o processo de auxílio-educação, mas a escola não forneceu as informações solicitadas. Os telefones que constam da declaração não são mais do colégio há mais de três anos.

COLABOROU: Fábio Rossi