Título: Ventilador ligado na Alerj
Autor: Rocha, Carla; Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 14/03/2008, Rio, p. 12
FRAUDE NO LEGISLATIVO
Suspeito de fraude acusa assessor de presidente da assembléia, Jorge Picciani, de também ser aliciador.
No centro de um escândalo de contratação de funcionários fantasmas e de fraude na concessão de auxílio-educação que teria a participação de parlamentares, a Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) teve ontem um dia quente, que ligou um ventilador de acusações após o depoimento de Ubirajara Ferreira, apontado com um dos principais aliciadores da quadrilha. Ubirajara, conhecido como Bira, disse no Conselho de Ética que um assessor da presidência da Casa também atuava nos corredores da legislativo e teria intermediado a nomeação de pelo menos 15 servidores. Ele afirmou ainda que o assessor teria indicado três nomes de servidoras - todas com número elevado de filhos - lotadas na Mesa Diretora. Por considerar que Bira teve intenção de tumultuar as investigações, a presidência da Alerj, no final do dia, divulgou que pedirá a prisão do acusado.
O assessor João Roso Neto, pai do vereador de Magé, William Roso, de fato, trabalha para o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB). Logo após a denúncia, Picciani reagiu às acusações, apresentando documentos provando que as três nomeações foram feitas pela deputada Jane Cozzolino (PTC), que está entre os oito parlamentares investigados pelo Conselho de Ética. Picciani atacou afirmando que vai apressar o processo disciplinar que poderá levar à cassação de deputados:
- Se for possível, já no dia 20 levarei pelo menos dois desses vagabundos que se envolveram com essa quadrilha para a cassação. Se fazem parte da quadrilha, eles têm que ser presos. Nós vamos municiar o Ministério Público.
Filho de assessor sofre ameaça
De acordo com fontes da Alerj, Jane Cozzolino conseguiu nomear as três funcionárias, graças a um acordo político durante o processo de eleição da Mesa Diretora, da qual não faz parte. Pela regra, apenas os membros e suplentes podem fazer nomeações. Mas não há dúvidas de que indicou pessoas ligadas a ela. Prestação de contas no Tribunal Superior Eleitoral mostra que pelo menos Cristina Célia Gonçalves, uma das nomeadas, trabalhou na campanha de Jane, em 2006.
Apesar de ter acusado Roso de ser também aliciador da quadrilha, Ubirajara forneceu apenas os nomes de três supostas vítimas do assessor: Cristina (mãe de seis filhos), Joíza Gonçalves Gomes (cinco filhos) e Maria da Penha Reis (cinco filhos).
- O deputado, para nomear, tem algum interesse, ou político ou financeiro. Então, se tinha algum crime, não é da minha parte - esquivou-se Ubirajara, que admitiu ter indicado pessoas para a contratação na Alerj.
Um dia antes do depoimento, Bira tinha prometido revelações bombásticas, mas ontem pediu garantias de vida para fazer as denúncias. O jeito arrogante de Bira, durante a sessão, irritou o presidente do Conselho de Ética, Paulo Melo (PMDB).
- Em primeiro lugar, vossa excelência se dirija a mim com respeito e não me aponte o dedo, porque não estou lhe apontando o dedo - reclamou o deputado.
Ao contrário das afirmações de Bira, a presidência da Alerj informou que quem corre risco de morte é o vereador William Roso. Cópia de um disque-denúncia, do dia 30 de janeiro, divulgado ontem pela Assembléia, revela um plano para assassinar o vereador. De acordo com a denúncia, o assassinato de Roso estava sendo negociado por R$200 mil com políticos e empresários de Magé. O vereador denunciou a prefeita de Magé, Núbia Cozzolino, irmã da deputada Jane, por corrupção. As investigações do esquema de fraude indicam que Bira teria ligações com a família Cozzolino e com a deputado Renata do Posto (PTB), de quem foi cabo eleitoral em Guapimirim.
*Do Extra