Título: Suspeita descartada em Brasília
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2009, Mundo, p. 16

Ana Luíza de Oliveira chegou ontem de Bilbao, na Espanha, em voo que partiu de Lisboa: usou máscara até o saguão do aeroporto para se proteger Uma mulher com pouco mais de 30 anos que acabara de chegar da Europa, onde teve contato com cidadãos mexicanos, foi atendida no Hospital das Forças Armadas (HFA) com sintomas de gripe, na noite de quarta-feira, no Distrito Federal. Assim que deu entrada no pronto socorro, ela foi examinada e levada para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), eleito pela Secretaria de Saúde do DF como referência no atendimento de pacientes possivelmente infectados com o vírus da Gripe A (H1N1).

A suspeita de contaminação foi descartada, na manhã de ontem, pela Secretaria de Saúde. ¿Após colhermos todas as informações da paciente, percebemos que se tratava de uma gripe comum¿, informou a subsecretária de Vigilância à Saúde do DF, Disney Antezana. Segundo o vice-diretor do HFA, coronel Roberto Expedito dos Santos Rodrigues, a paciente chegou a deixar o Hran sem passar pela consulta durante a madrugada. ¿Hoje de manhã (ontem) fomos atrás dela para que passasse por uma avaliação¿, afirmou.

Esse é o segundo caso de possível infecção pelo vírus da Gripe A no DF. O primeiro ¿ e que também foi descartado ¿ é de uma paciente do Hospital Regional do Gama. Até a noite de terça-feira, os técnicos investigavam a possível infecção de uma mulher de 39 anos. Ela teve contato com um grupo de mexicanos durante encontro evangélico e, ao ser internada, reclamava de febre e dores pelo corpo. A suspeita foi descartada na quarta-feira.

A presença em Brasília de representações diplomáticas de diversos países é um dos fatores que preocupam as autoridades de saúde local. Isso porque eles têm livre circulação no embarque e desembarque. Na última quarta-feira, o secretário de Saúde, Augusto Carvalho, e Disney Antezana visitaram as embaixadas do México, da Nova Zelândia e do Canadá. Mas, pelo menos por enquanto, não será adotada medida diferenciada para o corpo diplomático.

¿Eles são pessoas extremamente bem informadas e estão acompanhando todo esse processo. Deixamos os telefones de contato à disposição. Se sentirem necessidade vão nos ligar para obter e passar informações¿, comentou Disney Antezana. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) descartaram medidas diferenciadas.

O risco de pandemia da Gripe A coincide com o início da seca no Distrito Federal e, com isso, o aumento dos casos de doenças respiratórias. Nesse período, cresce consideravelmente a procura por atendimento nas redes pública e privada de saúde. Até agora, segundo Disney Antezana, o risco de pandemia de Gripe A, cujos sintomas são parecidos com os de uma gripe comum, não provocou corrida aos hospitais da rede. ¿E espero que continue assim, até porque no Brasil não temos nenhum doente até agora¿, reafirmou.

Umidade O médico sanitarista Pedro Tauil, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), diz que não há motivo para que as pessoas fiquem apavoradas. Segundo ele, a chegada do inverno e o tempo seco da capital federal dificultam a disseminação do vírus da Gripe A. ¿O clima úmido da Região Sul do Brasil é muito mais propenso à disseminação¿, explicou. ¿Antes de tudo, é importante não se automedicar, principalmente com antivirais. Resfriado tem coriza, dor no corpo e tosse, mas não tem febre. Ao contrário da gripe, que tem febre alta¿, diferenciou.

Especialistas ouvidos pelo Correio explicaram que casos suspeitos reúnem três condições: viagem a um dos países afetados ou contato com alguém que esteve em algum desses lugares. Se ocorreu uma dessas situações e a pessoa apresenta os sintomas da doença (leia quadro), deve procurar imediatamente uma unidade de saúde. Mesmo sem caso confirmado no país, hospitais públicos e privados do DF se preparam para uma possível pandemia.

Integrante da Sociedade Brasiliense de Infectologia, a médica infectologista Maria Lourdes Ferreira Lopes disse que algumas unidades de saúde começaram a montar os comitês de resposta rápida ¿ grupos treinados para agir com presteza e segurança no caso de uma pandemia. ¿Nossa geração não tem experiência de atuação em pandemias. A hora é de informação e organização da rede¿, afirmou Maria Lourdes. Segundo ela, pelo menos três hospitais da capital já montaram ou estão implementando comitês de resposta rápida: Hospital de Base, Hospital Brasília e HFA.