Título: Na Vila Imperial, ratos, baratas e pouca esperança
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 16/03/2008, O País, p. 8

Em comunidade de Recife, 70% não têm vasos sanitários.

RECIFE. De pomposo, só o nome: Vila Imperial. Na realidade, um aglomerado de casebres e barracos sob um viaduto que divide uma área popular e outra região nobre de Recife, os bairros de Santo Amaro e do Espinheiro. De um lado, arranha-céus de luxo. Do outro, um imóvel desocupado no interior do qual surgiu uma comunidade. São 150 famílias, que dividem o espaço com ratos e baratas. Não têm esgoto. A água é resultante de um "desvio". E a iluminação, feita à custa de gambiarras.

Mais de 70% das pequenas unidades residenciais não têm vaso sanitário e há até as que não contam, sequer, com um telhado. Os moradores não têm o direito a possuir um endereço oficial. Os becos não são ruas, não constam no mapa da cidade e muito menos na listagem oficial dos Correios.

- Aqui o pessoal só recebe carta porque chega na minha quitanda - afirma Ivan Romão Teixeira, o mais conhecido morador da localidade pelos carteiros, por ter uma barraca para vender verduras.

Se não fosse por Ivan, os outros moradores não teriam acesso ao serviço. Ele conta que o ambiente onde os barracos foram construídos é tão escuro que o carteiro fica com medo de entrar. A vila foi visitada em 2005 pelo então relator da ONU para Habitação, Milon Khotari, que considerou aquelas as condições mais precárias de moradia que ele já vira em suas andanças pelo mundo.

"Faço qualquer coisa, desentupo até esgoto"

A casa de Gilberto Gaudino da Silva, de 30 anos, e de Maria dos Prazeres de Souza, de 32, onde também vivem quatro filhos, é um exemplo. Não conta com água nem banheiro; o chão é de terra batida; as paredes, de pedaços de madeira e o teto, de zinco. A mobília é formada de móveis velhos, que a família colheu em algum lugar. Ele é catador, carroceiro e biscateiro. Ela fica em casa cuidando das crianças. A principal fonte de renda é o Bolsa Família. O maior sonho de Gilberto é um emprego e uma casa com privada.

- Trabalho devagar no que aparece. Faço qualquer coisa, desentupo até esgoto. Na última vez que fiz, fiquei com lama e porcaria até à altura da cintura. É melhor do que roubar - afirma ele, que mora há oito anos no lugar, período em que não conseguiu juntar trocados sequer para assentar um vaso sanitário.

Segundo a agente de saúde Otávia Eusébia da Costa, a comunidade recebeu promessa de ser reassentada pela prefeitura em um bairro próximo: o do Arruda. Mas o projeto de construção da vila está atrasado e as famílias temem pelos preços das contas de luz, já que no hoje nada, devido às gambiarras.