Título: Brasil teme êxodo de camponeses
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 16/03/2008, O Mundo, p. 38
ONGs recebem cada vez mais refugiados do conflito entre Farc e Colômbia.
TABATINGA E LETÍCIA. Pelo menos 24% dos cerca de 20 mil refugiados colombianos que vivem no Brasil são fugitivos do conflito entre o Exército colombiano, grupos guerrilheiros e paramilitares que há 40 anos aflige o país. O número consta de uma pesquisa feita em novembro de 2007 pela Pastoral da Mobilidade do Alto Solimões, sediada em Tabatinga, em parceria com as Pastorais Sociais em Letícia (Colômbia) e Santa Rosa (Peru).
A principal porta de entrada dos colombianos é Tabatinga, na tríplice fronteira. Segundo o padre Gonzalo Franco, coordenador da Pastoral da Mobilidade Humana do Alto Solimões, existe o temor de um êxodo de camponeses deslocados pelo conflito e até mesmo de guerrilheiros e paramilitares dispostos a abandonar o conflito para a região. Tanto que a Igreja, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), está construindo a toque de caixa, em Tabatinga, um albergue para receber os refugiados. O motivo é a grande ofensiva do Exército colombiano contra a guerrilha, considerada a maior em 40 anos de conflito, que resultou na morte de dois dos principais líderes das Forças Armadas revolucionárias da Colômbia (Farc).
-- A ofensiva é do norte para o sul. Aqui é o extremo sul da Colômbia. A onda ainda não chegou à fronteira com o Brasil mas certamente vai chegar em alguns meses - disse o padre Gonzalo.
A pesquisa ouviu mais de 200 pessoas nas três cidades fronteiriças. A grande maioria, 54%, disse ter vindo para o Brasil em busca de melhores condições econômicas, mas o número de refugiados da guerra preocupa.
-- Na Colômbia, o Brasil é visto como terra de oportunidades de emprego, mas um dos principais fatores para que eles escolham o país é a ausência das Farc. Não adianta fugirem para a Venezuela, Equador e Peru porque as Farc também estão lá - disse o padre.
Entidades criaram rede para ajudar os refugiados
Segundo a pesquisa, existem cerca de 650 deslocados hoje na fronteira, sendo que 78 deles são refugiados e sete são ex-combatentes (cinco ex-guerrilheiros e dois ex-paramilitares).
Devido à exigência de estar a no mínimo 50 quilômetros da fronteira para a obtenção de asilo no Brasil e à falta de empregos em Tabatinga, a grande maioria vai para Manaus e outras grandes cidades brasileiras.
Entidades como a Cruz Vermelha Internacional, ONU e Igreja Católica criaram uma rede de ajuda para os refugiados. Eles são levados até Bogotá e de lá embarcados em aviões cargueiros até Letícia, de onde são encaminhados para a Pastoral da Mobilidade Humana em Tabatinga. Ali, eles recebem auxílio na obtenção de documentos e são levados em barcos até Manaus onde fazem cursos de português e de qualificação profissional. (Ricardo Galhardo)