Título: Em ritmo de PAC e eleições
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 15/03/2008, O País, p. 3

NO PALANQUE

Lula diz que vai viajar pelo país; presidente do TSE lembra que 2008 é preparatório para 2010.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Araraquara, interior de São Paulo, que neste ano eleitoral pretende "andar mais pelo Brasil" e que 2008 será o ano da "consagração do PAC". Mas afirmou que só participará de campanha nos municípios onde houver um único candidato da base - o que excluiria o Rio, por exemplo, onde devem concorrer tanto Marcelo Crivella (PRB) como Alessandro Molon (PT) -, para evitar que a disputa nas cidades seja transferida para Brasília.

- Só participarei de campanha em que tiver uma candidatura da base. Onde tiver duas ou três, a prudência indica que não devo participar, porque o rescaldo depois das eleições eu sofro lá em Brasília.

Perguntado se os investimentos e as viagens do PAC não poderiam ter caráter eleitoreiro, o presidente argumentou que estará muito mais em cidades administradas por outros partidos do que pelo PT.

- O PT tem menos prefeitos do que os outros partidos, e certamente eu visitarei mais cidades de outros partidos que do PT. Daqui a alguns dias vou a São Paulo lançar um pacote de obras. O prefeito (Gilberto Kassab) é dos "demos" (DEM). E quem vai estar no palanque é o prefeito. Fui ao Rio, o prefeito é o Cesar Maia. Se eu pensasse em eleições, não estaria fazendo acordo de R$8 bilhões com o (José) Serra (governador de São Paulo). Não teria feito (acordo de) R$4 bilhões com o Aécio (Neves, governador de Minas).

Marco Aurélio vê "viés autoritário" no PT

No Rio, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, perguntado sobre as viagens do presidente Lula, afirmou que elas não estão sendo norteadas por "relações pessoais".

- Nós sabemos que as eleições municipais são preparatórias (das presidenciais, de 2010). Hoje mesmo abri um jornal e verifiquei que o presidente empreenderá viagens em campanha para apoiar as bases. Evidentemente, não está fazendo isso a partir de relações pessoais - afirmou, na Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj).

Em palestra sobre "A eticidade nas relações entre segurados e seguradoras", no II Congresso Brasileiro de Direito de Seguros e Previdência, ele afirmou que o autoritarismo ronda o PT:

- Paira no ar um viés autoritário. Muito embora não tenhamos mais campo no Brasil para retrocesso em termos do estado democrático de direito - disse o ministro.

Em entrevista, em seguida, perguntado sobre a ação que o PT ajuizou contra ele, afirmou que o partido mudou desde que assumiu o poder, e que isso o espantou:

- É mais fácil ser estilingue do que vidraça.

Lula procurou ontem não se comprometer sobre a possibilidade de a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), deixar o governo para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Ele ressalvou que, no PT, a ministra é hoje a preferida para disputar o pleito. O presidente não confirmou se ela pediu para deixar o cargo:

- Pelo que eu sei, não. Mas só tenho poder de convocar um ministro e de tirá-lo (do cargo). Se o ministro quiser deixar o ministério para disputar, a decisão é unilateral. Não sei o que vai acontecer em São Paulo. O PT tem um tempo para decidir, mas certamente todos sabem que a Marta é uma boa candidata - disse ele, após assinar ordem de serviço de R$102 milhões do PAC para a construção de uma malha ferroviária em Araraquara, administrada pelo PT.

Em Porto Alegre, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu ontem que o PAC poderá ter impacto nas eleições deste ano:

- O governo fez um esforço enorme e ele é realidade. Para o bem ou o mal, ele existe. Que pode ter impacto eleitoral, é da esfera política de um bom governo. Nesse sentido consideramos que o PAC deve ser reconhecido e esperamos que seja. Se vai ser ou não, é outra coisa.

COLABOROU:Maiá Menezes