Título: Apostando no Banco
Autor: Frisch, Felipe; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/03/2008, Economia, p. 36

Há quatro anos, um economista chamado Ben Bernanke foi co-autor de um artigo cujo título poderia ter sido ¿Coisas que o Federal Reserve deve tentar quando estiver desesperado¿ ¿ embora o original tenha sido ¿Alternativas para política monetária em situações não-convencionais: uma investigação empírica¿. Hoje, o Fed está de fato desesperado, e o senhor Bernanke, como seu presidente, está colocando algumas daquelas sugestões em prática. Infelizmente, no entanto, as ações do Fed de Bernanke ¿ mesmo sendo sem precedentes em seu escopo ¿ provavelmente não serão suficientes para interromper o declínio da economia.

E, se eu estiver certo, haverá outra implicação: o lado desagradável da crise financeira vai, em breve, criar políticas desagradáveis também.

Para entender o que está acontecendo, você tem que conhecer um pouco sobre como a política monetária usualmente opera.

O poder econômico do Fed reside no fato de ele ser a única instituição com direito de adicionar à ¿base monetária¿: pedaços de papel verde com retratos de presidentes, além de depósitos que bancos privados mantêm no Fed e que podem ser convertidos em papel verde à vontade.

Quando o Fed está preocupado com a economia, ele basicamente responde imprimindo aquele papel verde e usando as notas para comprar títulos dos bancos. Os bancos, então, usam o papel verde para conceder mais empréstimos, o que leva empresas e consumidores a gastarem mais, e a economia se expande.

É o que o senhor Bernanke vem fazendo. Infelizmente, a política não está surtindo efeito sobre o que realmente importa. As taxas de juros atreladas aos títulos públicos estão baixas ¿ mas o caos financeiro fez com que os bancos reduzissem sua disposição para assumir riscos, e está ficando mais difícil para os empresários contratarem empréstimos.

A tentativa do Fed de evitar uma recessão praticamente fracassou. A cada dado econômico divulgado, aumenta o temor de que a recessão será longa e profunda.

Agora, o Fed está seguindo uma das alternativas sugeridas no artigo de 2004, que tratava sobre o que fazer quando a política monetária convencional não funciona. Em vez de seguir a política monetária usual de comprar apenas títulos da dívida americana, o Fed anunciou esta semana que destinará US$400 bilhões ¿ quase metade dos seus fundos disponíveis ¿ a outras coisas, incluindo títulos lastreados, sim, em hipotecas. A aposta é que isso vai estabilizar os mercados e acabar com o pânico.

Oficialmente, o Fed não vai comprar esses títulos: ele está aceitando os papéis como garantia para os empréstimos. Mas isso é definitivamente assumir alguns riscos das hipotecas. Isso é, de alguma forma, aliviar os bancos? Sim.

Mas não é isso que me preocupa. Estou mais preocupado com o fato de que, apesar da escala extraordinária da ação do senhor Bernanke ¿ até onde sei, nunca um banco central de um país desenvolvido se expôs tanto aos riscos do mercado ¿, o Fed não vai conseguir dar um empurrão na economia: US$400 bilhões parecem muito, mas são pouco comparados ao tamanho do problema.

E se a iniciativa do Fed falhar? Os próximos passos dependerão dos políticos.

Eu acreditava que as principais questões para o próximo presidente seriam como sair do Iraque e o que fazer com o sistema de saúde. Agora, no entanto, suspeito que o maior problema da próxima administração será decidir que parte do sistema financeiro aliviar, como pagar as contas e como explicar para um público zangado o que está sendo feito.

PAUL KRUGMAN é colunista do ¿New York Times¿