Título: Dólar sobe 1,2% e Bovespa cai 0,46% com operação de ajuda a Bear Stearns
Autor: Frisch, Felipe; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/03/2008, Economia, p. 36

AMEAÇA GLOBAL: Risco-Brasil atinge maior nível desde 18 de janeiro de 2006.

Movimento de venda de ações por parte de estrangeiros pressiona cotação.

RIO e SÃO PAULO. As incertezas com relação ao sistema financeiro e à economia dos Estados Unidos fizeram o dólar comercial ter mais um dia de alta superior a 1%. A moeda fechou a R$1,713 para venda, com valorização de 1,24%, pressionada pelo movimento de venda por parte de investidores estrangeiros no mercado de ações. O principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, chegou a cair 2,52% durante o dia, com a divulgação das notícias da falta de liquidez do banco de investimento Bear Stearns, mas reduziu as perdas e acabou encerrando em queda de 0,46%, aos 61.990 pontos.

A Bolsa abriu em alta e o índice subiu 1,20% de manhã, com a divulgação nos EUA do índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) estável em fevereiro nos EUA. A expectativa era de uma alta de preços de 0,3%. Nem mesmo os dados positivos sobre a economia brasileira foram suficientes para segurar a queda da Bolsa, diz o analista Denilson Duarte, da gestora Máxima Asset.

Para o estrategista da Pentágono Asset Management, Marcelo Ribeiro, a atual crise, que passa pela desconfiança entre instituições financeiras, ainda terá desdobramentos. E as medidas do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), diz, surtem cada vez menos efeito:

- Cada vez que o Fed entra no mercado, entra com menos credibilidade. Na crise russa, em 1998, ele cortou 7,45 pontos percentuais da taxa básica de juros e funcionou. Agora, já cortou 2,25 pontos (para os 3% ao ano atuais) e nada. As vendas continuam caindo e a economia desacelerando - comparou.

Brasil é o mais protegido da AL, diz Emilio Botín

O risco-Brasil também teve nova alta e encerrou aos 289 pontos centesimais, a maior pontuação desde 18 de janeiro de 2006. O risco-país é a diferença, em pontos percentuais, entre a taxa paga pelos títulos de países emergentes e a das Treasuries, papéis do governo americano. Ontem, essa diferença foi de 2,89 pontos percentuais ao ano.

O presidente mundial do grupo Santander, Emilio Botín, disse ontem que a turbulência no mercado internacional não deve se resolver tão cedo - "não antes do fim do verão", disse, referindo-se à estação no hemisfério Norte, que se encerra em setembro. Segundo ele, a operação dos bancos centrais para ajudar instituições financeiras com problemas, reservando cerca de US$200 bilhões para garantir liquidez ao sistema, ainda não teria surtido efeito. O Brasil, afirmou ele ontem durante evento em São Paulo, está numa condição privilegiada.

- O Brasil é, na América Latina, o último a que os efeitos dessa desaceleração (dos EUA) podem chegar - disse Botín. - O país tem força e está preparado para enfrentar essa situação como nenhum outro.

Botín disse ainda que a incorporação definitiva das operações do banco ABN Amro-Real no Brasil deve acontecer entre julho e agosto, quando, espera, o banco central holandês deverá autorizar a transferência dos ativos brasileiros do grupo ABN ao banco espanhol. Segundo Botín, em 31 de outubro o Santander pretende apresentar ao mercado seu plano estratégico para o Brasil, e a forma como se dará a integração entre as instituições nos próximos três anos.

Um consórcio formado pelo Santander, junto com o belga-holandês Fortis e o escocês Royal Bank of Scotland, arrematou em outubro do ano passado o controle do grupo ABN por US$101 bi lhões. Na divisão do conglomerado holandês, o Santander ficou com os seus negócios no Brasil.