Título: Lula: inflação é doença desgraçada
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 15/03/2008, Economia, p. 37

Segundo presidente, consumo precisa acompanhar capacidade produtiva.

ARARAQUARA (SP). Um dia depois da divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que indicou a possibilidade de aumento dos juros para conter a inflação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o consumo interno não pode superar a capacidade produtiva do país, sob risco da volta "daquela doença desgraçada da inflação". Para Lula, o poder de compra do brasileiro deve ser compatível com o investimento industrial.

- O Brasil pode crescer 3%, 4%, 5%, quanto a economia suportar, mas temos de ter um cuidado com o consumo, que não pode superar a cadeia produtiva do país, porque se cresce muito o consumo e a indústria não investe, não renova fábricas e não renova a produção, a gente tem de volta aquela velha doença desgraçada, que é a inflação - disse o presidente, durante lançamento de obras de saneamento básico em Araraquara (interior de São Paulo), previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Lula, que não fez menção em seu discurso à ata do Copom ou à possibilidade de aumento de juros, também rebateu críticas feitas ao pacote cambial anunciado quarta-feira. Segundo ele, tais medidas só terão efeito a médio ou longo prazo e, por isso, o país deveria aguardar os primeiros resultados antes de abrir fogo contra o governo.

- Não existem medidas cambiais imediatas. Elas foram anunciadas anteontem (quarta-feira) e creio que as pessoas nem sabem ainda (dos detalhes). Isso é um processo e ainda vai surtir efeito. É como uma dor de cabeça. Você não melhora quando toma um comprimido, vai ter que esperar meia hora ou 40 minutos para fazer efeito - disse ele, para quem as medidas são apenas preventivas:

- As medidas que tomamos são de prevenção para facilitar, e não para inibir o crescimento e o desenvolvimento do Brasil.

Segundo Lula, a forte valorização do real frente ao dólar precisa ser enfrentada, sob pena de afetar o resultado da balança comercial:

- Nós queremos melhorar a nossa capacidade de exportação, nós queremos trabalhar para que o real não fique tão valorizado, porque isso diminui a quantidade de produtos que nós exportamos.