Título: BC exagera sobre riscos, diz ministro
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 15/03/2008, Economia, p. 37

Presidente do Ipea também critica órgão: "debate primitivo".

SÃO PAULO e RIO.O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, classificou ontem como "exagero" o diagnóstico feito na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando o Banco Central cogitou elevar os juros para segurar a inflação. Para o ministro, não há risco de descompasso entre produção e demanda doméstica, o que, em tese, poderia levar a uma alta geral de preços.

- O país tem hoje um cenário macroeconômico estável, cenário externo confortável e crescimento sustentável... acho que há um certo exagero nessa colocação dos meus colegas do BC - afirmou Miguel, em discurso durante evento na Fundação Getulio Vargas.

Depois, em entrevista, o ministro voltou a falar sobre o assunto.

- Do ponto de vista do Ministério do Desenvolvimento, nós não corremos o risco de enfrentar uma inflação de demanda. Acreditamos que a indústria é capaz de atender a demanda atual.

Mas ele acha compreensível que o BC seja conservador e tente agir preventivamente contra a inflação. Segundo a ata do Copom, "dados recentes sugerem que, embora o investimento venha contribuindo para suavizar a tendência de elevação das taxas de utilização da capacidade, não tem sido suficiente para conter tal processo". O comitê frisou que "está pronto para adotar uma postura diferente" em relação à política monetária.

Em aula inaugural na Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, também fez críticas ao BC ontem:

- Não estamos condenados a tomar decisões erradas o tempo todo. É muito ruim só pensar no controle inflacionário. Esse é um debate primitivo.

Convencido de que o país pode continuar crescendo este ano em ritmo similar ao de 2007 (quando a economia se expandiu 5,4%), o economista acha que uma política de combate à inflação concentrada em juros altos pode "matar a sustentabilidade" do crescimento.

- Quando os juros são a única ferramenta de política monetária para conter a inflação, esse tipo de estratégia acaba inibindo os investimentos e atraindo capital especulativo - disse Pochmann, acrescentando que, a exemplo do Fed (o banco central americano), o BC deve se preocupar com políticas de longo prazo e geração de emprego.

Embora tenha se mostrado preocupado com a inflação, em discurso realizado no interior de São Paulo, o presidente Lula comemorou os indicadores da economia brasileira:

- Hoje eu posso dizer para vocês, sem medo de errar: vivemos o melhor momento do país nos últimos 30 anos, e com possibilidade de melhorar muito mais - disse o presidente.