Título: PCC ignora crise e aponta jovens líderes
Autor: Scofield JR., Gilberto
Fonte: O Globo, 17/03/2008, O Mundo, p. 21

Presidente e primeiro-ministro chineses são mantidos em seus cargos até 2013.

PEQUIM. Como se a crise na capital do Tibete, Lhasa, não existisse, um animado Congresso Nacional do Povo da China aprovou neste fim de semana a lista de nomes elaborada pelo Partido Comunista (PCC) com a nova geração dos líderes que comandarão o país nos próximos anos. Como era esperado, o presidente da República e da Comissão Central Militar (Forças Armadas), Hu Jintao, foi eleito para mais cinco anos no cargo, o mesmo ocorrendo com o primeiro-ministro, Wen Jiabao.

Mas é a indicação da base de apoio da Presidência (ontem) e do Conselho de Estado (hoje) que dão as dicas sobre quem deverá subir ao comando da China a partir de 2012, quando ocorre o 18º Congresso do PCC e a sucessão de Hu Jintao começa oficialmente. Filho de um veterano do Exército de Libertação Popular (ELP), Xi Jinping, 54 anos, ex-secretário do partido em Xangai, foi eleito ontem o novo vice-presidente da República e provável sucessor de Hu Jintao em 2013, segundo um consenso entre os vários grupos que compõem hoje o PCC.

¿ A escolha de Xi Jingping evidencia como as decisões dentro do partido estão cada vez menos dissociadas da imagem do líder personalista e mais ligadas à idéia de um consenso entre grupos. Afinal, já se sabia que o preferido de Hu Jintao era o ex-secretário do partido na província de Liaoning, Li Keqiang ¿ diz o historiador e hoje consultor Sidney Rittenberg, primeiro tradutor dos escritos de Mao Tsé-tung nos EUA e único americano aceito no PCC, do qual se desligou durante a Revolução Cultural.

Vice-presidente ganha mais notoriedade

Ainda que o cargo de vice-presidente da República seja mais representativo do que propriamente gerencial, a escolha de Xi Jingping o deixa sob os holofotes da mídia. Afinal, o sexto homem na hierarquia do Politburo representará o Estado em cerimônias internacionais e comemorações domésticas de peso, como as Olimpíadas de Pequim, em agosto, da qual é uma espécie de chefe honorário.

Segundo analistas do cenário político chinês, dois fatores que ajudaram Xi Jinping a chegar ao posto que ocupa hoje podem ser o motivo de sua ascensão ao comando da China ou sua desgraça. O primeiro é o fato de Xi ser o que se chama na China de ¿princeling¿, um filho da velha guarda comunista cujas conexões ¿ e não o trabalho árduo ¿ o impulsionam na carreira. Há quem veja nisso um demérito. O segundo é sua mulher, Peng Liyuan, uma conhecida cantora de hinos patrióticos do ELP e figura fácil nos programas da TV estatal. Para a China, isso é exposição demais para um líder de Estado.

Por sua vez, Li Keqiang, ex-secretário do partido na província de Liaoning, foi eleito vice-primeiro-ministro executivo e provável sucessor de Wen Jiabao em 2013. (Gilberto Scofield Jr.)