Título: PT deve autorizar alianças eleitorais com PSDB
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 19/03/2008, O País, p. 5

Diretório recomendará acordos com base governista, mas abrirá exceções como Belo Horizonte, Aracaju e Salvador

BRASÍLIA. Pressionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já avalizou algumas alianças municipais de seu partido com adversários, o Diretório Nacional do PT deve permitir na próxima semana alguns acordos regionais do partido com o PSDB. Apesar da recomendação prioritária para alianças municipais com partidos da base aliada no plano nacional, a decisão que será tomada pelos dirigentes, na segunda-feira, deve abrir uma brecha para eventuais acordos com legendas de oposição.

Isso vai beneficiar diretamente a aliança que está sendo costurada em Belo Horizonte entre o prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador Aécio Neves (PSDB), em torno da candidatura do secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas, Márcio Lacerda (PSB).

Em SP, petistas e tucanos estão juntos em 26 cidades

Ontem, petistas já reconheciam que seria praticamente impossível evitar algumas alianças pontuais com os tucanos em capitais como Belo Horizonte, Aracaju e Salvador. Isso porque caciques locais já estão muito próximos dos tucanos, com entendimentos avançados.

- O PT tem que construir um leque de alianças a partir da base aliada no plano nacional, que sustenta o presidente Lula. Agora, pode haver exceções. Se isso ocorrer, temos que respeitar - ressaltou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Segundo ele, isso já ocorre em várias cidades. O senador lembrou que, só no estado de São Paulo, 11 municípios administrados por prefeitos petistas têm tucanos como vice, e outras 15 cidades administradas pelo PSDB têm vices do PT. Como não são capitais, não chamam a atenção. Em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, por exemplo, o prefeito petista tem como vice um tucano.

O senador Tião Viana (PT-AC) defendeu ontem essas exceções, lembrando que a aliança entre PT e PSDB foi iniciada no Acre, nos anos 90. Na primeira eleição de Jorge Viana (PT) para o governo do estado, em 1998, o vice era um tucano.

- O ideal é que as alianças ocorram entre aliados nacionais. Mas é preciso respeitar acordos locais e circunstâncias próprias, como em Belo Horizonte. E isso será respeitado pelo Diretório Nacional - afirmou Viana.

A reunião do Diretório Nacional está marcada para o dia 24, em Brasília. Mas antes da movimentação de Lula nos bastidores, um grupo influente do partido tentava vetar alianças com tucanos. Em nota recente, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), citou que resolução aprovada em 9 de fevereiro, e enviada às instâncias municipais do partido, prevê que deveriam "levar em conta a articulação entre os aspectos locais com a dinâmica política estadual e nacional". Mas, na mesma nota, ressalta que "o PSDB, nacionalmente, em aliança com o DEM, cumpre o papel de organizar a oposição política" ao governo.

Mesmo assim, a maioria das tendências do partido está inclinada a permitir autonomia das alianças em casos especiais.

- Temos uma visão política nacional, mas é preciso tratar de forma diferenciada cada caso. Vamos autorizar casos especiais. O caso de Minas, por exemplo, será resolvido - observou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).