Título: Lula: crise dos EUA é mais grave que a da Malásia e Brasil não foi atingido
Autor: Freire, Flávio; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 19/03/2008, Economia, p. 22

Presidente se refere a colapso asiático de 97, que, porém, começou na Tailândia

CAMPO GRANDE (MS) e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem o fato de a crise no mercado de crédito dos Estados Unidos não ter afetado a economia brasileira. Ao lembrar que o país "quase quebrou" durante a forte crise cambial que atingiu os países da Ásia, em 1997, Lula disse que o Brasil vai passar à margem do problema enfrentado pelos americanos.

- Nós estamos com uma crise certamente 30 vezes mais forte do que a da Malásia, que é uma crise na maior economia do mundo, os Estados Unidos. Eles (os americanos) já estão pensando que essa dívida (rombo dos ativos dos bancos) vai ficar em mais de US$1 trilhão, e que o Estado vai ter que ajudar a resolver, porque parte do sistema financeiro está quebrando. E, até agora, não aconteceu nada com o nosso querido Brasil - disse ele, emendando:

- Por que não aconteceu nada? Essas coisas a gente não aprende no banco da escola, se bem que eu acho que a faculdade de Economia ensina. Mas a gente aprende na vida prática - disse o presidente, para em seguida lembrar das dificuldades financeiras que enfrentava com dona Marisa Letícia quando ainda trabalhava em fábricas de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.

A crise asiática começou em julho de 1997, quando o governo tailandês desistiu de proteger sua moeda, o baht. Em seguida, foram à lona as moedas de Malásia, Indonésia, Filipinas e até Coréia do Sul, até então apontados como exemplos de sucesso, estremecendo mercados financeiros do mundo todo. Os "Tigres Asiáticos" (Hong Kong, Cingapura e Taiwan, além de Coréia do Sul) e também os "tigrinhos"(Malásia, Tailândia e outros) rapidamente viraram "micos" para os investidores, que sacaram US$200 bilhões da região entre 1997 e 1998, causando quebradeira de empresas e profunda recessão. As moedas nacionais perderam ao menos metade de seu valor. A onda de temor financeiro chegou ao Brasil em janeiro de 1999 e causou a maxidesvalorização do real.

Nelson Barbosa: país pode ter queda nas "commodities"

Já o secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, disse ontem que a crise financeira internacional se agravou e tornou-se sistêmica. No entanto, os efeitos para o Brasil ainda dependem do quanto esta instabilidade se alastrará para a economia real mundial. A ordem do dia no ministério é se antecipar.

A equipe econômica continua convicta de que o país está blindado do ponto de vista financeiro e, com o diferencial de juros, manterá fluxos positivos de capital. A Bovespa vai oscilar, e as perdas são naturais neste momento. Mas, se a crise financeira desacelerar fortemente a economia global, o país pode amargar a queda do preço das commodities e o encolhimento de mercados de manufaturados. As conseqüências ultrapassariam 2008, nesta hipótese.

- Nosso olhar é sobre as exportações e a produção industrial - avaliou Barbosa.

(*) Enviado especial

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