Título: Bancos nos EUA podem ser alvo de brasileiros
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 19/03/2008, Economia, p. 25

Com crise bancária e dólar fraco, Bradesco e Itaú passam americanos Morgan Stanley e Merrill Lynch em valor de mercado

Com a crise no sistema bancário americano, e a conseqüente queda do valor das ações dos bancos estrangeiros, as instituições financeiras brasileiras começam a superar suas concorrentes internacionais em valor de mercado. Não à toa, são apontadas pelo mercado como potenciais compradoras de instituições em dificuldade mundo afora. Bradesco e Itaú, por exemplo, avaliados em mais de US$55 bilhões, já têm preço superior aos tradicionais Morgan Stanley (US$47,3 bilhões) e Merrill Lynch (US$45,3 bilhões).

O Citi já ocupou a primeira posição do ranking, quando era avaliado em mais de US$230 bilhões. Já os dois maiores bancos privados brasileiros rondavam a 40ª colocação em 2004. Hoje se aproximam do 10º lugar. Os valores levam em conta os preços das ações ontem e a queda do dólar, que beneficia os bancos brasileiros, com valor de mercado original em reais.

Na segunda-feira, os gigantes nacionais chegaram a valer mais do que UBS (avaliado naquele dia em US$50,713 bilhões) e Credit Suisse (US$52,405 bilhões). Isso sem falar do Lehman Brothers, atualmente avaliado em apenas US$24,667 bilhões, segundo dados da Bloomberg. Investidores chegaram a especular que o Itaú, com valor de mercado bastante superior e dinheiro em caixa, estaria interessado no Lehman. O banco brasileiro informou apenas que "não comenta rumores".

- Hoje, os bancos brasileiros são importantes nesse jogo. Eles têm todo o potencial para ir às compras. O mais provável seria comprar um braço (uma parte das operações, em alguma região, como a América Latina) - diz Fausto Vieira, economista da gestora de fundos Rio Bravo.

Para um experiente operador de mercado, as compras fariam sentido, uma vez que os brasileiros já têm operações no exterior. No entanto, são acostumados ao negócio no Brasil, que ainda oferece spreads (diferença entre os juros do dinheiro emprestado e os do dinheiro tomado) mais altos do que nas economias desenvolvidas.

Mas, apesar de tentador, o momento pode não ser o melhor para se tornar dono de uma instituição americana, dizem alguns. Para o estrategista da Pentágono Asset Management, Marcelo Ribeiro, nenhum banco brasileiro vai querer "se arriscar em terras estrangeiras para comprar ativos pouco transparentes", já que o tamanho do prejuízo dos bancos ainda não é totalmente conhecido:

- O JPMorgan comprou o Bear Stearns, mas o Fed (banco central americano) deu garantias, coisa que não daria para um banco de fora (dos EUA), e um banco de fora também não iria entrar num rio com águas turvas sem uma garantia dessas.

Foco ainda é o país, diz especialista

Para Aloisio Lemos, analista da corretora Ágora, o foco dos bancos brasileiros ainda é o país, onde eles têm "melhores oportunidades", e isso deve continuar. Mesmo quando montam agências no exterior, o foco é o cliente brasileiro, lembra.

- Não vejo os bancos focados em compras lá fora. A qualidade dos ativos é duvidosa. Já houve uma baixa significativa, e nada leva a crer que não haverá uma nova rodada. O desafio agora é saber como os bancos estrangeiros vão crescer. As operações que davam retorno no passado vão deixar de existir - diz Eduardo Roche, gerente de análise da gestora de fundos Modal Asset Management.