Título: PT analisará caso a caso alianças com PSDB
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 24/03/2008, O País, p. 4

Ala mais radical é contra coligações com adversários históricos, mas grupo ligado ao Planalto não quer veto

SÃO PAULO. O diretório nacional do PT se reúne hoje, em Brasília, para decidir a estratégia do partido para as eleições municipais deste ano. A política de alianças será o tema mais polêmico do encontro. A ala mais radical do partido defende um veto às coligações com PSDB e DEM. Já os setores mais próximos ao Palácio do Planalto não pretendem proibir as alianças, fazendo apenas uma recomendação de prioridade para coligações com os partidos que integram a base do governo Luiz Inácio Lula da Silva. As possíveis coligações com DEM e PSDB seriam avaliadas caso a caso.

- Em muitas cidades existem alianças com o PSDB e o DEM que são realmente municipais e não têm a pretensão de se nacionalizar - defendeu o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, líder da corrente Articulação de Esquerda.

"Neste caso, PSB é uma barriga de aluguel"

A explicação de Pomar é um recado ao prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que articula uma coligação com o PSDB do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura da capital mineira.

Setores do partido enxergam na articulação de Pimentel e Aécio Neves uma tentativa de aproximar PT e PSDB no país, hipótese rechaçada por grande parte dos petistas.

- Neste caso, o PSB é uma barriga de aluguel. O Lacerda não é do PSB, ele está no PSB - disse Pomar, para quem o PT deve aprovar hoje um texto exclusivo condenando a possibilidade de aliança com os tucanos em Belo Horizonte.

De acordo com a proposta mais comentada nos bastidores do PT, os casos de coligação com PSDB e DEM envolvendo cidades médias e grandes, com campanha pela televisão, seriam julgados pelo diretório nacional. Já as pequenas cidades ficariam a cargo das direções estaduais.

Neste caso, Lula, que deu aval à articulação em Belo Horizonte, teria que usar sua influência junto à direção petista para viabilizar a aliança. Isso é visto como uma temeridade no partido, já que a reunião de hoje será a segunda da nova direção, eleita ano passado.

- Uma parte do PT está descontente com o governo, reclama de falta de interlocução, já que os ministros políticos não são petistas. A ojeriza ao PSDB pode ser um fator de aglutinação deste descontentamento - disse um dirigente.

A oposição à aliança com o PSDB em Belo Horizonte tem apoio entre colaboradores próximos a Lula, como o ministro da Secretaria Geral da Presidência, o mineiro Luiz Dulci.

Diretório quer resgatar "modo petista" de governar

Em caso de veto às coligações com tucanos e democratas, o diretório do PT na capital mineira pode ser alvo de intervenção, caso insista na aproximação com Aécio.

Outro ponto espinhoso para Lula diz respeito ao posicionamento do PT em cidades onde partidos da base tiverem candidatos fortes. O presidente do partido, Ricardo Berzoini, disse durante o Processo de Eleições Diretas (PED) que o PT não se subordinará aos interesses do Palácio do Planalto.

Por outro lado, o diretório nacional deve aprovar hoje uma resolução na qual convoca os candidatos a resgatarem na campanha o "modo petista de governar". Com isso, as realizações do governo Lula deverão ganhar espaço na propaganda eleitoral.

A estratégia tem três objetivos: usar a popularidade de Lula para alavancar as candidaturas municipais do PT, tirar o foco dos escândalos éticos que abalaram o partido e preparar o PT para a disputa presidencial de 2010, a primeira sem Lula como candidato.