Título: CPI: Jorge Félix adia depoimento
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 24/03/2008, O País, p. 4

Governo e oposição duelam sobre quebra de sigilo

BRASÍLIA. A principal batalha entre governo e oposição na CPI do Cartão Corporativo ganhou novos ingredientes com o episódio do suposto dossiê sobre gastos secretos na administração Fernando Henrique, mas pode acabar adiada. Os parlamentares governistas da comissão preparam novo argumento para retardar a votação da quebra do sigilo dos cartões corporativos da Presidência. Já a oposição diz que, mais do que nunca, vai lutar para abrir os gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo menos no discurso.

A estratégia dos governistas conta com o apoio do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix. Em ofício enviado na semana passada à presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), ele alegou estar em férias e informou que não poderá depor amanhã, como estava programado. Sem a presença do general, os governistas dizem não ser possível decidir sobre a abertura de gastos sigilosos.

- O general Félix tem afirmado que a divulgação das despesas sigilosas derrubaria todo o esquema de segurança da Presidência. Não podemos abrir tudo para depois descobrirmos que estava em jogo a segurança nacional - diz o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).

Com ampla maioria, os governistas devem jogar pesado para conseguir o novo adiamento, embora a presidente da CPI garanta que a programação não será alterada. Ela argumenta que a abertura dos gastos do governo tucano tornou desnecessário ouvir Félix sobre as despesas petistas.

- Se o sigilo não é mais sigiloso, podemos abrir tudo - diz a senadora.

A decisão sobre o calendário de votações e depoimentos cabe apenas a Marisa, mas ela tem sido obrigada a aceitar as sugestões dos governistas, que têm ampla maioria no plenário. Desde o início dos trabalhos, no último dia 11, a tucana tem seguido os principais pontos do roteiro de Luiz Sérgio, acusado por parlamentares da oposição de tentar retardar ao máximo as investigações. Por isso, a CPI ainda não votou os requerimentos mais polêmicos, que pedem a abertura das contas presidenciais e a convocação da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Como Marisa já descartou a sessão de amanhã por causa da ausência do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o impasse sobre o depoimento dele deve se prorrogar até a próxima semana. Se a CPI transformar seu convite em convocação, o depoimento de Félix acontecerá a partir de 48 horas após a aprovação do requerimento. Como a comissão não se reúne às sextas-feiras, quando a maior parte dos parlamentares já deixou Brasília, a tendência é que o depoimento do general seja adiado para o dia 1º de abril.