Título: Aliança de PT e PSDB já incomoda o PMDB
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 21/03/2008, O País, p. 3

Geddel diz que, se não houver compromisso, partido ficará "livre para fazer conveniência"

BRASÍLIA. A possibilidade de aliança entre PT e PSDB em algumas capitais nas eleições deste ano está provocando reação raivosa de setores do PMDB, aliado preferencial do governo Lula. O partido ameaça, como troco, aprovar uma resolução nacional liberando, e até incentivando, alianças com o DEM, partido mais radical na oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A intenção do PMDB é barrar negociações avançadas de petistas com tucanos em cidades como Belo Horizonte, Salvador e Aracaju. Primeiro, o ministro das Comunicações, o mineiro Hélio Costa (PMDB), reagiu à parceria entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel na capital mineira. Agora, outro ministro peemedebista, o baiano Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), ameaça retaliar.

Em Salvador, o PMDB quer o apoio do PT à reeleição do prefeito João Henrique Carneiro. Geddel chega a condicionar as alianças municipais à disputa presidencial de 2010. E cobra do PT compromisso político. A queixa do PMDB tem endereço certo: a reunião do diretório nacional do PT, que acontece nesta segunda-feira em Brasília, para definir os critérios das alianças eleitorais para este ano. A tendência do partido é permitir exceções.

- Já que não existe compromisso do PT, também não vamos ter compromisso com ninguém. Neste caso, o jogo nacional vai ficar uma promiscuidade. Aviso que vou conversar com o DEM. Vai ser o samba do crioulo doido. Se o jogo é da conveniência, e não o do compromisso, vou ficar livre para fazer conveniência - advertiu Geddel.

O seu recado é direto para o PT da Bahia. O governador Jaques Wagner (PT) admitiu na semana passada ao GLOBO que considera dentro de seu leque de alianças a candidatura do tucano Antonio Imbassahy. Geddel, que tem atuado em parceria com o petista na Bahia, não gostou da declaração. Lembrou que há um compromisso do PMDB em apoiar a candidatura à reeleição de Wagner, em 2010, e o candidato do próprio Lula à sucessão presidencial. Mas que isso, agora, está condicionado a eleição municipal.

- Neste caso, o PMDB vai ficar liberado das alianças e procurar o seu rumo em todo o país. Para mim, política é compromisso. Quero saber quem é o candidato do PSDB em 2010. Vai ser o nome do Lula ou será o governador José Serra? Quero saber do PT qual será a música, porque sei dançar todos os ritmos. Mas preciso estar com a roupa adequada - afirmou o ministro da Integração.

Cardozo diz que Diretório Nacional pode liberar exceções

Preocupado com a reação peemedebista, o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), disse que a tendência do partido será de determinar que as alianças prioritárias serão com os partidos da base aliada de Lula. Ele ressaltou que PSDB e DEM são adversários no campo nacional, e disse que o Diretório Nacional pode deliberar apenas exceções:

- O PT vai fixar as alianças prioritárias e caracterizar quem são os adversários. Não acho que uma eventual exceção possa atrapalhar a relação com a base aliada . Ninguém precisa ficar magoado com situações especiais. O PT vai ser fiel com suas relações históricas.

O líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE), confirmou que a tendência do partido será mesmo de permitir algumas alianças municipais com o PSDB:

- Por que proibir algumas alianças com o PSDB? Ao permitir alguns acordos com os tucanos, o PT abre o diálogo com a oposição e ajuda a reduzir a tensão nas relações. Não serão proibidas alianças pontuais com o PSDB.

O ex-líder da bancada, o deputado baiano Walter Pinheiro, que integra a tendência de esquerda Democracia Socialista, também aposta numa decisão do diretório nacional que permita acordos pontuais com o PSDB:

- As especificidades locais não podem descaracterizar a aliança nacional. Porém, a tendência do PT é de tirar uma orientação nacional e reservar os casos especiais. Isso já ocorreu no passado.