Título: Crivella ataca: Gabeira defende homem com homem e maconha
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 21/03/2008, O País, p. 4

Pesquisa mostra que hoje deputado seria derrotado por senador num 2º turno

A três meses das convenções municipais, que oficializarão o páreo para as eleições de outubro, a pressão em torno da decisão do governador Sérgio Cabral (PMDB) cresce. Segundo aliados, ele deverá anunciar o que fará até o fim da próxima semana. Cabral vem defendendo a pré-candidatura do secretário de Esportes, Eduardo Paes, na contramão de pelo menos duas vertentes do partido - a que defende a aliança com o DEM e a que quer a candidatura do deputado federal Marcelo Itagiba.

O candidato do PRB, senador Marcelo Crivella, ligado à Igreja Universal e que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que, mesmo sem uma definição clara do PMDB, o quadro está consolidado.

- A disputa interna no PMDB vai ser tão complexa quanto as que costumam ocorrer no PT. Mas o que está claro é que o eleitorado da Zona Sul vai dividir votos entre todos os outros candidatos. Meus votos se concentram nas áreas mais populares - disse Crivella, que aproveitou para dar o tom do que deverá ser seu embate com o deputado Fernando Gabeira, que lançou sua pré-candidatura por PV-PSDB-PPS no começo do mês:

- O Gabeira não consegue coagular as propostas de todo esse bloco de candidatos. Além do mais, ele defende aborto, homem com homem e maconha. Essas coisas são fortes - acusou Crivella, que se diz "ex-bispo" da Universal.

Deputados querem Itagiba, eleitor aprova Paes

Dois novos ingredientes tornaram o clima ainda mais incerto no PMDB. A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados aprovou manifesto com a assinatura de oito dos nove parlamentares fluminenses apoiando o nome de Itagiba. Ao mesmo tempo, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), feita entre os dias 17 e 19 de março, mostrou um crescimento de Paes: em uma das simulações feitas pelo instituto, que ouviu 1.100 pessoas por telefone, o peemedebista aparece em segundo lugar, com 12,7% das intenções de voto, atrás de Crivella - aliado de Lula -, com 18,5%.

Na última consulta feita pelo instituto, Paes tinha 11,3%, e em setembro do ano passado, 6%. À espera da decisão do PMDB, o deputado não quis comentar os números.

A pesquisa do IBPS deixa clara ainda a pulverização do chamado voto de opinião. Se as eleições fossem hoje, os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB), Fernando Gabeira e Solange Amaral (DEM) teriam 12,2%, 9,5% e 7,6%, respectivamente.

Em um segundo turno, mostra a pesquisa, Paes e Jandira ganhariam de Crivella. O único que perderia seria Gabeira.

A deputada Jandira Feghali, que aparece em terceiro lugar quando a simulação inclui Paes, afirma que a "grande incógnita" da campanha será a posição de Cabral. Ela também concorda que a maioria dos candidatos concorre pelos mesmos votos - os da Zona Sul. Afirma, no entanto, que atrai votos também das zonas Norte e Oeste. Sem Paes na pesquisa, Jandira aparece em segundo lugar, com 14,1% das intenções de voto, contra 19,8% de Crivella.

- Existe uma inflação de candidatos que atraem votos da Zona Sul e da classe média. Mas nós já passamos do túnel rumo às zonas Norte e Oeste há muito tempo. Se há alguma maneira de unificar a esquerda é com a minha candidatura - diz Jandira.

Solange: o voto ideológico será o mais disputado

Contando com a aliança com o PMDB - que garantiria à sua chapa o maior tempo no horário eleitoral gratuito -, a deputada federal Solange Amaral afirma que, com a saída de Wagner Montes e da ex-deputada federal Denise Frossard (PPS) do cenário eleitoral, e com a entrada de Gabeira, "o quadro está ficando claro". E a leitura é semelhante à de seus adversários:

- Há um corredor único de votos com perfil ideológico. É muito candidato para concorrer a esse voto. Vai ser uma concorrência tumultuada - diz Solange, que, como Jandira, afirma ter votos na área popular.

Fernando Gabeira ainda acha cedo para comentar resultados de pesquisas.

- O momento é muito ainda inicial, e acho que as pesquisas revelam fotografias de uma campanha que ainda nem começou. Prefiro nem comentar - disse o deputado.