Título: Jobim: Precisamos ter arrogância estratégica
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 21/03/2008, O País, p. 11

Em encontro com militares nos Estados Unidos, ministro defende criação de Conselho Sul-Americano de Defesa

WASHINGTON. Num esforço para convencer os demais países da região a aderirem à idéia de criar o Conselho Sul-Americano de Defesa, o governo brasileiro argumentou ontem que tal instituição serviria tanto para evitar incidentes como a recente invasão do Equador por tropas da Colômbia, para atacar guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), como para promover um avanço tecnológico e capacitação da indústria bélica regional. E proporcionaria ainda "a consolidação de um arcabouço político-estratégico" que daria à América do Sul um perfil de maior respeito internacional.

O recado foi passado em Washington pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao expor a proposta brasileira perante a Junta Interamericana de Defesa, que reúne representantes militares das Américas. Ele procurou esvaziar suspeitas de uma busca de hegemonia por parte do Brasil, através dessa iniciativa:

- Não há um país hoje que possa falar pela América do Sul. O Brasil não se sente legitimado para ser porta-voz da região. Para ter uma voz no mundo, uma voz única, a região precisa ter esse conselho de integração, com posições unificadas para operar pró-ativamente nas questões internacionais com posições de relevo, e não manipuladas por grupos ou interesses.

Ele reforçou tal argumento:

- Temos de ter audácia estratégica e uma valorização do nosso continente.

Ministro levará proposta a países do continente

Jobim disse que o Conselho seria montado sobre uma base com quatro pilares que enfatizariam o respeito mútuo e os interesses de cada nação: soberania, autodeterminação, não intervenção em assuntos internos (dos demais países) e não violação territorial. Jobim contou que já conversou a respeito, obtendo boa receptividade, com os ministros de Defesa do Chile e da Argentina. No próximo dia 14 de abril, ele levará a idéia ao presidente Hugo Chávez, na Venezuela, seguindo então para Guiana e Suriname. Colômbia, Peru e Equador serão as próximas visitas, assim como Paraguai, Bolívia e Uruguai. A decisão seria tomada no segundo semestre, numa reunião de todos em Brasília.

Segundo Jobim, o Conselho não seria conflitante com a Junta Interamericana de Defesa, um órgão da Organização das Nações Unidas (OEA), e tampouco haveria sobreposição.

- A América do Sul é o nosso universo, e temos de pensar grande. Precisamos de arrogância estratégica.

Jobim, que hoje terá um encontro com a secretária de Estado, Condoleezza Rice, visitou também a Base Naval de Norfolk, na Virginia, e conversou com o Comando Conjunto das Forças Armadas dos EUA para conhecer de perto as dificuldades enfrentadas pelo Pentágono para implantar, nos anos 90, um esquema que permitisse operações conjuntas. Tal experiência ajudará na elaboração do Plano Estratégico Nacional de Defesa.

Ele aceitou a convite para manter um oficial brasileiro de ligação, entre EUA e Brasil, no Comando Conjunto das Forças Armadas americanas. Jobim ficou impressionado com o protótipo do caça F-35, de quinta geração, mas adiantou que o Brasil não pretende adquirir a aeronave, de cerca de US$60 milhões:

- Seria um poder dissuasório, mas não chegamos a esse patamar ainda. Precisamos é de aviões para monitorar a Amazônia.