Título: Uniforme contra a dengue
Autor:
Fonte: O Globo, 21/03/2008, Rio, p. 12
O "AEDES" ATACA
Prefeitura recomendará que crianças usem calças, meias e sapatos para evitar picada
Célia Costa, Fernanda Pontes, Luiz Ernesto Magalhães e Waleska Borges
Botar areia em pratinhos de vasos de plantas e manter as caixas d"água fechadas já não bastam para a população se prevenir contra o Aedes aegypti. Como a epidemia de dengue tem afetado principalmente crianças, a Secretaria municipal de Saúde decidiu lançar na semana que vem uma campanha recomendando que crianças e adolescentes usem calças, meias e tênis ou sapatos, já que o mosquito transmissor da doença costuma voar baixo e picar principalmente pés e pernas. Uma tiragem inicial de 500 mil cartazes e folhetos será distribuída em escolas públicas e particulares, ônibus, metrô, trens, comércio e Linha Amarela.
O governo do estado também lançou uma ofensiva contra a doença. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, admitiu ontem a situação de epidemia e anunciou a abertura de 80 novos leitos em várias unidades. Além disso, três tendas climatizadas serão montadas em Jacarepaguá (Rua Retiro dos Artistas) e ao lado das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Campo Grande e Santa Cruz, para que até 300 pacientes recebam hidratação na veia. Um ônibus percorrerá a cidade recebendo doadores de sangue para garantir o estoque de plaquetas para atender aos casos mais graves. O estado criará ainda o serviço telefônico gratuito Rio Contra a Dengue (o número ainda será divulgado) para que a população denuncie os vizinhos que não acabarem com focos do mosquito. Os bombeiros vão distribuir telas para tampar caixas d"água.
- O número de casos é extremamente elevado, e estou tratando como uma epidemia. A denominação não é importante, e sim as ações para enfrentar esse altíssimo número de casos de dengue e as complicações da doença - disse Côrtes, após abrir mais dez leitos de UTI pediátrica para pacientes com dengue no Hospital Pedro II (Santa Cruz), da rede estadual.
O serviço 0800 do estado ajudará o morador a denunciar tanto o vizinho quanto o poder público. Após a ligação - os operadores de telemarketing já estão sendo treinados para o trabalho -, uma equipe de bombeiros vai checar as denúncias.
Prefeitura sugere uso de repelente
O coordenador de Controle de Vetores da prefeitura, Mauro Blanco, explicou que a campanha voltada para crianças e adolescentes tem esse público como alvo porque boa parte nasceu depois das últimas epidemias do tipo 2 no Rio, ocorridas na década de 90. Ele recomenda que, se os pais tiverem recursos, também apliquem repelentes nas partes do corpo dos filhos que fiquem expostas. O material educativo será distribuído com a colaboração da Defesa Civil do Município, das Coordenadorias Regionais de Educação e do Sindicato das Escolas Particulares do Rio.
- Estamos aceitando a participação de voluntários que queiram ajudar distribuindo material ou colaborando para orientar a população. O cadastro pode ser feito pelo telefone 2576-7297 - disse o coordenador da Defesa Civil do Município, coronel João Carlos Mariano.
O Sindicato das Empresas de Ônibus (Rio-Ônibus) informou que os cartazes serão colocados em pelo menos mil veículos, tanto interna quanto externamente. O sindicato das empresas informou ainda que doará à Defesa Civil vales-transporte para os voluntários. A quantidade não está definida.
Os casos de dengue do tipo hemorrágico, que exigem transfusões de sangue, já causam reflexos ao estoque do HemoRio. Segundo a diretora-geral da entidade, Clarisse Lobo, nos últimos 30 dias o pedido de doação de plaquetas para os hospitais públicos aumentaram entre 30% e 50%. De sexta-feira passada até anteontem, o HemoRio produziu 1.119 bolsas de plaquetas e distribuiu 738 aos hospitais. Segundo Clarisse, com o aumento dos pedidos de plaquetas para atender aos casos de dengue hemorrágica, a produção do HemoRio passou ser distribuída até um dia depois. Antes, as bolsas de plaquetas duravam no estoque de dois a três dias.
- Pedimos aos médicos que indiquem a transfusão de plaquetas somente se houver sangramento ativo - alerta Clarisse Lobo, lembrando que, quando o paciente está com baixa imunidade no organismo, o vírus da dengue estimula o sistema de defesa a fabricar proteínas que agridem as próprias plaquetas.
Plaquetas podem acabar até domingo
Segundo Clarisse Lobo, para um adulto receber uma transfusão de plaquetas, são necessários de seis a oito doadores. Cada bolsa de plaquetas equivale a dez quilos de peso corporal do receptor. Além de casos de dengue hemorrágica, as plaquetas são doadas para pessoas em tratamento de doenças hematológicas, como a leucemia e outros tipos de câncer, e ainda pacientes que foram baleados.
- Uma bolsa de sangue tem de 400ml a 500 ml. Mas ela é fracionada em plasma (proteína), hemácia (parte vermelha) e plaquetas (que coagulam o sangue). Para transfusão de hemácias para um adulto, por exemplo, basta de um a dois doadores de sangue - explica Clarisse Lobo.
De acordo com a diretora do HemoRio, há necessidade de novas doações. Ela lembra, porém, que o prazo de validade das plaquetas doadas é de cinco dias. As hemácias têm validade de 42 dias, e o plasma, de dois anos.
- Hoje, toda plaqueta do sangue doado sai do HemoRio no dia seguinte. Pedimos que os doadores compareçam. As doações podem ser feitas todos os dias da semana, das 7h às 18h - disse Clarisse Lobo.
O HemoRio fica na Rua Frei Caneca 8. O estacionamento será liberado ao doador. Outras informações pelo telefone: 0800-2820708.
- A nossa preocupação é com o feriado. Se os doadores não comparecerem, no domingo não haverá bolsas de plaquetas suficientes para distribuição - disse Clarisse Lobo.