Título: CPI : dossiê contra tucanos esquenta debate
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 22/03/2008, O País, p. 8
Documentos, que registrariam compra de artigos de luxo na gestão de FH, acirram briga entre governo e oposição
BRASÍLIA. A divulgação de um suposto dossiê sobre gastos sigilosos da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso promete atear fogo ao embate entre governo e oposição na CPI do Cartão Corporativo. Reportagem publicada ontem pela revista "Veja" acusa a Casa Civil de ter mobilizado servidores para rastrear despesas supérfluas dos tucanos com as contas tipo B, que eram mais usadas antes da criação dos cartões. Os documentos secretos, que registram a compra de vinhos importados, champanhe e caviar, estariam sendo usados para intimidar a oposição e evitar a abertura dos gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A presidente da comissão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), declarou-se "estarrecida" com a divulgação das despesas, mas recusou-se a comentar os supostos gastos com artigos de luxo. Ela disse que a oposição usará o episódio para exigir a abertura das contas secretas do governo petista e convocar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
- Se o sigilo foi aberto para um lado, temos que abrir para o outro. Agora os governistas não têm mais desculpa - afirmou a tucana, que prometeu pôr em votação na quarta-feira a convocação de Dilma.
Relator diz que pretende investigar governo passado
Em depoimentos à CPI na quarta-feira, os ministros Jorge Hage (Controladoria Geral da União) e Paulo Bernardo (Planejamento) já haviam feito ameaças veladas sobre a abertura das contas B entre 1998 e 2002.
Em tom de cautela, o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), também não quis comentar as compras listadas no suposto dossiê, mas reafirmou que pretende investigar os gastos com contas do tipo B no governo passado.
- Como relator, opino sobre fatos e não sobre versões. Já aprovamos um requerimento que pede essas informações. Quando elas chegarem, vamos analisá-las - disse o petista, que mantém a resistência à convocação da chefe da Casa Civil. - Defendo que a CPI ouça um responsável pelo controle interno da Presidência. Não a ministra Dilma, que está voltada para gerenciar o PAC.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que sugeriu a retirada da oposição caso a quebra do sigilo dos cartões da Presidência seja derrotada em plenário, acusou o governo de jogar sujo para abafar as investigações. Ele classificou as denúncias de "ridículas" e disse que despesas com champanhe e caviar são "típicas de recepções oficiais":
- O governo está usando a máquina oficial para produzir dados contra adversários políticos e intimidar a oposição. Esse dossiê é um crime perpetrado no terceiro andar do Palácio do Planalto.
O senador João Pedro (PT-AM), integrante da CPI, disse que as informações publicadas na revista revelariam falta de controle dos gastos no governo tucano. Ele previu uma semana de debates acalorados e disse que a revelação dos gastos secretos vai esvaziar polêmicas sobre o uso dos cartões por integrantes do governo Lula, como o ministro do Esporte, Orlando Silva:
- Perto desses vinhos importados, a tapioca vai virar pó.