Título: Militares entram na guerra
Autor: Rocha, Carla; Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 22/03/2008, Rio, p. 14
"AEDES" ATACA
Ministro anuncia que Forças Armadas montarão hospitais de campanha para pacientes com dengue
O Ministério de Defesa entrará na guerra contra a dengue no Rio, montando hospitais de campanha na cidade para ajudar no atendimento aos doentes. A ordem partiu do ministro Nelson Jobim, que está nos Estados Unidos desde quarta-feira. Informado sobre a gravidade da situação, e de que tanto o governo municipal quanto o estadual solicitavam uma ajuda, ele autorizou a mobilização.
- Conversei com o chefe do Estado-Maior de Defesa, almirante (Marcos Martins) Torres, para deixarmos tudo preparado para ajudar, pois esse é um problema sério lá no Rio - disse Jobim, ontem. - As Forças Armadas estão dispostas, inclusive, a montar hospitais de campanha, porque seus hospitais no Rio estão ocupados.
Ao anunciar a providência, ele sugeriu que houve falhas no esquema sanitário, mas acrescentou que não era o momento de ficar apenas discutindo o assunto:
- Houve uma leniência no combate ao mosquito da dengue e agora estamos pagando esse preço. Não adianta a gente ficar discutindo se é uma epidemia ou não. O fato é que você tem um número x de casos, e é isso aí que nos cria o problema.
Ministro vai discutir a ajuda com Lula
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica apresentarão ao ministro da Defesa, no início da próxima semana, o que as três Forças poderão fazer para ajudar no atendimento às vítimas da dengue e no combate à doença. As três Forças estão levantando os recursos humanos e materiais disponíveis para o trabalho.
O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, foi surpreendido pelo anúncio, apesar de estar há alguns dias tratando do assunto com as Forças Armadas. Ele disse que só esperava uma resposta na reunião que acontecerá na próxima quarta-feira:
- A ajuda é extremamente bem-vinda. Nossa maior necessidade é material humano. Não só para fazer atendimento dos doentes e agilizar o diagnóstico, mas também para ações de prevenção e combate a focos do mosquito - disse Côrtes, que, na segunda-feira passada, havia se reunido com representantes das Forças Armadas.
O secretário acrescentou que está especialmente interessado na possibilidade de as Forças Armadas disponibilizarem clínicos gerais e pediatras. Segundo ele, além dos hospitais, as tendas de hidratação - que estão sendo instaladas em vários bairros - vão precisar de profissionais de saúde para fazer o atendimento.
Nos últimos dias, quando o ministro Nelson Jobim pediu uma proposta de ajuda ao Rio, as Forças adiantaram que a situação não era muito favorável: as vagas disponíveis nos hospitais militares na cidade são insuficientes e faltam profissionais de saúde, especialmente médicos. Depois de amanhã, um representante do Ministério da Defesa deverá participar de reunião no Ministério da Saúde para conhecer as necessidades do Rio para o combate à dengue. Jobim deve se reunir com os comandantes Juniti Saito (Aeronáutica), Júlio Moura Neto (Marinha) e Enzo Peri (Exército), segunda ou terça-feira. Logo depois, o ministro deve levar a proposta de ajuda ao presidente Lula e ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Não é a primeira vez que as Forças Armadas ajudam no combate à dengue no Rio. Em 1998, mais de dois mil soldados do Exército entraram na guerra contra a doença. Os militares ajudaram na identificação de focos e no combate às larvas do mosquito. Na ocasião, praças da cidade foram transformadas em postos de coleta de materiais que pudessem servir como depósito de água. A ação dos militares também chegou à Baixada Fluminense, à Região dos Lagos e a Angra dos Reis. Em 2005, em função da intervenção federal na saúde do município do Rio, hospitais militares de campanha foram montados na sede campestre do Clube da Aeronáutica, na Barra, e no Campo de Santana, no Centro. Na época, o hoje secretário estadual de Saúde, Sérgio Cortes, era o coordenador da intervenção do Ministério da Saúde no Rio.
Ontem, foram montados bloqueios na cidade de Ubatuba - que faz divisa com Paraty - para tentar impedir que a epidemia de dengue chegue ao estado de São Paulo. Nas blitzes, agentes de endemias paravam carros com placas de cidades do Estado do Rio e tentavam identificar se algum dos passageiros estava com sintoma da doença. Três mil veículos foram vistoriados, e 12 pessoas com suspeita da doença, encaminhadas a um hospital de Ubatuba.
* Correspondente
Colaborou: Luiza Damé (Brasília)