Título: Tudo pelas eleições
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 25/03/2008, O País, p. 3

PT aprova alianças eleitorais com PSDB e DEM, mas sem acordo sobre programa de governo

Sob forte reação de algumas tendências do partido, o diretório nacional do PT seguiu orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e abriu a possibilidade de alianças com PSDB e DEM nas eleições municipais deste ano. Mas os petistas impuseram pelo menos duas travas: essas alianças terão que ser aprovadas pela executiva nacional e não devem ter qualquer relação com a disputa presidencial de 2010. O que significa que, se os dirigentes petistas entenderem que a aliança entre o governador Aécio Neves (PSDB-MG) e o prefeito petista Fernando Pimentel em Belo Horizonte, por exemplo, tem caráter programático e visa a projetos políticos futuros, ela será barrada.

Pela resolução aprovada ontem, obrigatoriamente, toda proposta de aliança com o PSDB e DEM em capitais, em cidades com mais de 200 mil eleitores e onde houver transmissão de programa eleitoral do PT terá de ser avalizada e passar pelo crivo da executiva nacional.

- A priori não há veto ao acordo de Minas Gerais. A posição do diretório é avocar a decisão final para a executiva. Ademais, o candidato lá não é do PSDB, é do PSB. A principal vertente que pode determinar esse veto é o entendimento de que há tentativa de aliança programática entre o PT e o PSDB . O diretório rejeitou hoje a idéia de que há compromissos programáticos entre os dois partidos, rejeitou principalmente a idéia de que há reciprocidade para 2010 - disse o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini.

No próximo dia 31 haverá reunião da executiva com as partes interessadas. Serão ouvidos os dirigentes do PT mineiro: o prefeito Fernando Pimentel, os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci e a deputada Maria do Carmo.

- No caso de Minas, não está em jogo uma candidatura. O que está em jogo, e balizará um possível veto, é a idéia de que PT e PSDB podem se unir programaticamente para o futuro. Se se chegar à conclusão de que o que está por trás disso é um acordo político que não se alinha com a resolução, pode haver veto - disse Berzoini.

"Aliança programática para o futuro, negativo!"

Segundo o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, a resolução, no geral, proíbe coligação com DEM e PSDB. Mas, nos casos em que houver requisição para essas alianças, serão tratados como exceção em reuniões dos diretórios municipal, estadual e, em caso de recurso, à executiva, sobre cidades menores.

- Onde houver requisição de aliança com PSDB e DEM, a direção vai dar. No caso de Minas, se ficar entendido que progride a tese da aliança programática para o futuro, negativo! - disse.

O debate no diretório nacional foi acirrado e dividiu o partido. No fim, ficou claro que as alianças preferenciais, este ano, devem ser com os aliados do PT no plano nacional. O partido ressaltou ainda que PSDB e DEM são adversários do PT no governo federal e assim devem ser tratados. Além de Pimentel, outro beneficiado é o governador de Sergipe, Marcelo Déda, em negociação avançada com o PSDB para apoiar um candidato do PCdoB em Aracaju.

A decisão de abrir exceções também ajuda o governador Jaques Wagner (PT-BA), que já avalizou a candidatura do ex-prefeito de Salvador, o tucano Antonio Imbassahy, como integrante de sua base aliada. Wagner também tenta repetir a aliança em Camaçari entre PT e PSDB.

- É natural que existam exceções e vamos discutir essas exceções. Agora temos adversários nacionais e a orientação é por alianças com partidos que estão na base. Dado esse cenário, aí sim vamos analisar as exceções, uma análise local, caso a caso - explicou o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), ressalvando que não poderão ser aprovadas alianças com reflexos em 2010: - É preciso analisar a repercussão lá na frente. Não será aprovada uma aliança que descaracterize o objetivo nosso de acumular forças para 2010.

Na reunião, o secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, o mineiro Romênio Pereira, fez uma defesa enfática da aliança em Minas:

- O acordo lá não é problema. É solução.

A reação mais forte partiu da esquerda petista. O deputado estadual Raul Pont (PT-RS), membro do diretório nacional, chegou a chamar o candidato do PSB na capital mineira de "laranja".

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), que venceu as prévias do partido para a prefeitura de Porto Alegre, também reclamou:

- Sou contra. Estrela não se bica com tucano. Aliança com DEM e PSDB é indefensável.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) defendeu a aliança em Minas e criticou:

- Essa reação é conseqüência da maldita luta interna do PT. Não dá para ficar olhando apenas para o próprio umbigo.

COLABOROU: Roberto Stuckert Filho