Título: Ações feitas durante o Pan não surtiram efeito
Autor: Antunes, Laura; Brandão, Tulio
Fonte: O Globo, 25/03/2008, Rio, p. 12

Jacarepaguá tem 35% dos casos

No inverno do ano passado, quando o Rio vivia a febre dos Jogos Pan-Americanos, agentes de saúde entravam em campo para tentar manter a dengue longe das arenas. O temor era motivado pelos números de 2006, quando Jacarepaguá e Barra tinham registrado um surto da doença. Os dados de hoje, no entanto, mostram que a região beneficiada pelos jogos foi derrotada pelo Aedes aegypti. Segundo a prefeitura, Jacarepaguá concentra hoje cerca de 35% dos casos de dengue no município.

- Eles fizeram muita coisa por causa do Pan, mas na hora errada, porque tinham de fazer isso no verão - critica o presidente da Câmara Comunitária de Jacarepaguá, Carlos Neves. - Se tivessem dado continuidade ao trabalho, estendendo as ações até o verão, tudo bem. Mas não. Tudo não passou de uma jogada de marketing.

Às vésperas dos Jogos Pan-Americanos, foram feitos mutirões de combate à dengue nas comunidades Asa Branca, Nova Esperança e Nova Cruzada, em Jacarepaguá. Além disso, a Secretaria municipal de Saúde treinou pessoal para atuar em brigadas antidengue na Vila Pan-Americana. A existência de focos do mosquito transmissor da doença nessas regiões era uma das preocupações do Comitê Organizador dos jogos (CO-Rio).

Hoje a região vive um medo maior. Pelos números do último Censo, Jacarepaguá tem cerca de 470 mil moradores, ou 8% da população da cidade, mas reúne 35% dos casos de dengue. Essa desproporção se reflete no atendimento. O bairro tem apenas um grande hospital de emergência: o Cardoso Fontes, que é federal. Para o engenheiro civil e sanitarista Alaôr Santiago, as características de Jacarepaguá podem ter influência nos números:

- É uma área de grandes espaços vazios, sem saneamento, com pouca urbanização e cheia de bolsões de pobreza - afirma Alaôr.