Título: Desemprego marca 1º de Maio
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2009, Economia, p. 12

Nível de desocupação é histórico em quase todos os países, o que motiva atos violentos e enfrentamento com a polícia. Especialistas e governo divergem sobre o futuro do emprego e os efeitos da crise no país

Por causa da crise econômica, o feriado que marcou o Dia do Trabalho teve pouco o que ser comemorado. Com o aumento das demissões em quase todos os países, empregados e desempregados foram às ruas protestar e exigir dos governos ações capazes de criar vagas e preservar as já existentes (leia abaixo). Atingido em cheio pela turbulência global, o mercado de trabalho encolhe tanto nas economias desenvolvidas, como nas emergentes. Nível de desocupação chega a patamares históricos em regiões da Europa, da Ásia e nos Estados Unidos.

No Brasil, a taxa de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu 0,5 ponto percentual de fevereiro para março, passando para 9%. No resto do mundo, com destaque para os Estados Unidos e a Europa, a situação não é diferente. Na Espanha, por exemplo, país que possui a taxa de desemprego mais elevada do continente, o índice bateu em 17,36% no primeiro trimestre do ano ¿ percentual mais alto dos últimos 30 anos.

O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, avalia que, apesar de ruim, o cenário brasileiro é confortável comparado ao que acontece no resto do planeta. ¿No Brasil, a taxa de desemprego está subindo porque os empregos gerados estão sendo insuficientes para absorver toda a força de trabalho. Na Europa e Estados Unidos, a situação é outra. Lá está ocorrendo a queima de postos de trabalho¿, explicou o especialista.

Nos Estados Unidos, que sofre com a crise econômica há pelo menos um ano e meio, o desemprego está retornando aos índices verificados durante a crise do petróleo dos anos 1970. Em março último, bateu em 8,5%. Já na Alemanha, país que possui leis restritivas à demissão, o índice de desemprego se move mais devagar. Mesmo assim, chegou a 8,3% em abril deste ano. E a tendência é de aumento do número de desempregados em todo o mundo, pelo menos neste primeiro semestre de 2009.

¿Sofremos uma aceleração grande do desemprego a partir do fim do ano passado, mas agora, apesar de continuar a tendência de alta, o crescimento (do desemprego) se dará num ritmo menor¿, avaliou Ganz. De acordo com o pesquisador, uma possível reversão só se dará no segundo semestre do ano. Até lá, será possível observar dados positivos no mercado formal, mas eles serão em volume inferior às necessidades do mercado de trabalho.

Para o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e economista José Márcio Camargo, o desemprego no Brasil deverá chegar a dois dígitos ainda neste semestre. O especialista avalia que a situação melhorou em relação ao início do ano, quando a queda da produção foi ¿avassaladora¿, mas mesmo assim a estabilização de momento ainda está se dando em um nível muito baixo.

Apesar de importante, José Márcio Camargo avalia que a ajuda do governo a alguns dos setores mais prejudicados e que empregam mão de obra intensiva, como a construção civil e o setor automotivo, tem prazo de validade. Segundo ele, desonerações funcionam por um certo tempo, mas não são suficientes. ¿A redução de IPI antecipa consumo futuro, o que significa que, no futuro, o consumo vai cair e, com ele, podemos ter um aumento do desemprego além do esperado¿, explicou.

Na comparação com os demais países, o economista da PUC afirma que o Brasil é muito mais parecido com a Europa do que com os Estados Unidos em termos de mercado de trabalho. Embora não na mesma magnitude, o professor explica que o Brasil tem um sistema de proteção social (seguro-desemprego) que garante renda ao trabalhador pouco qualificado, assim como um sistema de previdência generoso.