Título: Saldo de investimento estrangeiro deve cair para US$12 bi, metade do previsto
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/03/2008, Economia, p. 23
Com taxação em renda fixa, BC reduz suas estimativas para este ano
BRASÍLIA. A crise internacional e as medidas adotadas recentemente pelo governo, que taxou as aplicações estrangeiras em renda fixa, levaram o Banco Central (BC) a reduzir sua projeção de investimentos externos em papéis de longo prazo e em ações no mercado brasileiro para este ano. Agora, o cálculo é um superávit de US$12 bilhões, 54% menos do que a estimativa anterior, de US$26 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, pesa ainda a expectativa de ocorrerem menos aberturas de capital de empresas. Em 2007, as ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) atraíram muitos investidores de fora. Mas, com a crise, poucas empresas se arriscam a se financiar no mercado. Este ano, diz a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), houve 22 cancelamentos de abertura de capital.
Apesar do quadro, em março a entrada de recursos externos para investimentos em portfólios continua robusta, mais que dobrando sobre fevereiro: US$6,694 bilhões entre dia 1º e hoje. Mas, para Lopes, o movimento vai arrefecer:
- As medidas tomadas pelo governo devem sensibilizar (reduzir) esses números.
Para o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o BC está muito pessimista. Ele não crê em recuo tão forte.
- Os ativos brasileiros estão muito baratos, e os juros pagos aqui são altos. O investidor de fora vai continuar entrando - avaliou, referindo-se à taxa básica de juros (Selic), em 11,25% ao ano.
Pelo menos neste mês, a entrada de moeda estrangeira continua forte. O fluxo cambial estava positivo em US$8,109 bilhões entre os dias 1º e 19, com o fluxo financeiro superavitário em US$4,742 bilhões, e o comercial, em US$3,367 bilhões.
Aos poucos, o mercado começa a ajustar as projeções da Selic para cima. Segundo a pesquisa Focus, divulgada ontem pelo BC, na mediana das cinco instituições financeiras que mais acertam previsões, os economistas já esperam que a taxa feche o ano a 12,75%, 1,5 ponto percentual a mais que as contas do levantamento passado. (Patrícia Duarte)