Título: BC revê projeção e espera déficit três vezes maior nas contas externas
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/03/2008, Economia, p. 23
Agora, previsão é que saldo este ano fique negativo em US$12 bilhões
BRASÍLIA. A crise internacional, a balança comercial com saldos cada vez menores e as remessas crescentes de lucros e dividendos levaram o Banco Central (BC) a mais do que triplicar sua projeção de déficit em transações correntes do país para este ano, passando-a de US$3,5 bilhões para US$12 bilhões. Apesar de ainda não ser um dado preocupante, por representar menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), a revisão acende uma luz amarela sobre as contas externas - cujo comportamento nos últimos anos foi fundamental para reduzir a vulnerabilidade do país.
Em fevereiro, o déficit em transações correntes fechou negativo em US$2,090 bilhões, o pior resultado para esses meses desde o início da série histórica, em 1947. O acumulado deste ano já está negativo em US$6,322 bilhões, também recorde. Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou apenas saldos positivos nas transações correntes.
- O mercado ainda não chega a ficar preocupado com os dados, mas o fato é que se perdeu o suporte da sobra de recursos. Antes, a conta corrente não dependia da conta financeira (investimentos) e, agora, passa a depender justamente num momento de crise e mais volatilidade - explicou o economista-chefe do banco Schahin, Sílvio Campos Neto.
O BC espera que os investimentos externos em carteira, como títulos e ações, somem US$12 bilhões este ano, muito aquém dos US$26 bilhões esperados até então. De positivo, aparecem os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que também fazem parte da conta financeira e cuja projeção para 2008 foi puxada de US$28 bilhões para US$32 bilhões. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, essa é a principal contrapartida dentro do balanço de pagamentos:
- O déficit (nas transações correntes) vem sendo financiado pelo IED. E esses investimentos são muito pouco afetados pela crise internacional.
Previsão de superávit menor na balança comercial
Os ingressos de recursos para o setor produtivo, porém, levam a uma maior remessa de lucros e dividendos - movimento que vem sendo observado sistematicamente desde o ano passado e tem acertado em cheio a conta corrente do país. Para 2008, o BC projeta que as saídas líquidas ficarão em US$24 bilhões, US$4 bilhões a mais do que na conta anterior. Os maiores envios vêm dos setores automotivo e financeiro, que têm ajudado a suprir necessidades de financiamento das matrizes. Só as fabricantes automotivas respondem por cerca de 30% do total remetido.
Do lado comercial, a revisão no saldo positivo da balança caiu de US$30 bilhões para US$27 bilhões. O forte crescimento econômico do país tem elevado de maneira substancial as importações, que devem subir 30% neste ano. Em ritmo menos acelerado, a expansão das exportações deve ficar em cerca de 13%, segundo o BC.