Título: Ambientalistas pedem ferrovia e não rodovia na Amazônia
Autor: Tavares, Hélida
Fonte: O Globo, 20/03/2008, O País, p. 3

Especialistas dizem que reconstrução da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, aumentará desmatamento

MANAUS. A reconstrução da BR-319 (Manaus-Porto Velho) pode provocar o desmatamento de mais de cinco milhões de hectares de floresta na Amazônia até 2050. O alerta foi feito ontem por ambientalistas, durante o seminário "Ferrovia X BR-319: um debate necessário e urgente para o Amazonas", realizado por ONGs, com o apoio do governo do Estado do Amazonas, em Manaus.

Ambientalistas são contrários à reconstrução da BR-319, prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e defendem a construção de uma ferrovia entre duas cidades amazonenses: Careiro Castanho (a 80 quilômetros de Manaus) e Humaitá (a cem quilômetros de Porto Velho). Segundo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, a ferrovia conteria em 80% o desmatamento previsto para a reconstrução da BR-319.

O evento para discutir a ferrovia reuniu religiosos, estudantes, pesquisadores, representantes do Ministério do Meio Ambiente e órgãos do estado. O representante da ONG Preserve a Amazônia, Marcos Mariani, disse que a entidade começou um movimento a favor de ferrovias na região: "Vá de Trem! Preserve a Amazônia". A ONG estuda a possibilidade de pedir, na Justiça, a paralisação das obras, como será feito na BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA).

Mariani ressaltou que estudos e estatísticas sobre o desmatamento apontam que mais de 80% da área desmatada na Amazônia, que abrange os estados de Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Acre e Mato Grosso, estão a até 50 km das rodovias.

Para ele, as estradas favorecem o desmatamento, e os estudos ambientais para licenciamento de rodovias não atendem à legislação brasileira.

- Há pressão política por parte de empreiteiras que atuam nessas obras - afirmou Mariani.

A BR-319 foi construída na década de 70, mas, já nos anos 80, se encontrava praticamente intrafegável devido aos maus tratos do tempo e à falta de manutenção. Essa situação se estende até os dias de hoje. O projeto da BR-319 está paralisado e aguarda o relatório de impacto ambiental para o licenciamento de alguns trechos.

De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Philip Fearnside, o desmatamento de mais de 5 milhões de hectares até 2050, com a reconstrução da BR-319, vai ser responsável pela emissão de cerca de 950 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosférica. Um dos trunfos na proposta da ferrovia é que ela poderia evitar quase a totalidade dessas emissões. Os custos de reconstrução da BR-319 estão estimados em R$675 milhões. De acordo com estudo encomendado por órgãos ambientais do Amazonas, para construir a ferrovia, seria necessário investimento de quase R$2 bilhões.