Título: Fluxo cambial teve saldo de US$7 bi em 15 dias
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 20/03/2008, Economia, p. 29
AMEAÇA GLOBAL: Taxação pode ter antecipado aplicações em bolsas e títulos. Conta inclui ainda investimento direto
Valor financeiro, sete vezes maior que o do mesmo período de 2007, foi o mais alto em um mês desde 1998
BRASÍLIA. O recrudescimento da crise financeira na semana passada não foi capaz de estancar a entrada de dólares no Brasil. Na primeira quinzena de março, segundo o Banco Central (BC), o fluxo cambial financeiro - que embute as operações em bolsas e títulos e os investimentos diretos, entre outros - estava positivo em US$7,133 bilhões, quase sete vezes mais do que em igual período de 2007. O acumulado quinzenal é o maior saldo positivo, mesmo considerando meses fechados, desde março de 1998, quando chegou a US$11,191 bilhões.
Até o dia 15 de março, as operações em moeda estrangeira relacionadas a investimentos somaram US$24,574 bilhões em compras e US$17,441 bilhões em vendas.
- Os investidores estão vindo buscar juros maiores aqui. Além disso, o investimento direto (voltado ao setor produtivo) também continua forte - explicou o gerente de câmbio da corretora Souza Barros, Vanderlei Arruda, para quem o movimento de entrada de dólares continuará forte a médio prazo, apesar de volátil devido à crise internacional.
O resultado financeiro influenciou o desempenho geral do fluxo cambial - entrada e saída de moeda estrangeira do país, incluindo operações de comércio -, positivo em US$9,76 bilhões na primeira quinzena, valor quase 150% superior aos US$3,987 bilhões de um ano atrás. No ano, o fluxo tem superávit acumulado de US$10,649 bilhões.
Com as medidas tomadas pelo governo, que passou a taxar em 0,38% o capital estrangeiro destinado às aplicações de renda fixa desde a última segunda-feira, o investidor estrangeiro com foco no curto prazo pode ter antecipado sua entrada no país. Mas, mesmo com o encargo, o Brasil continua sendo muito atrativo em termos de rendimento, por pagar a maior taxa de juros do mundo (11,25% ao ano), em comparação aos 2,25% dos EUA (taxa negativa em termos reais).
- O Brasil acaba, apesar de não estar imune à crise internacional, sendo uma opção de investimento quase preferencial - afirmou o economista-chefe da corretora Liquidez, Marcelo Voss.
Com tanto volume de recursos, a cotação do dólar frente ao real não deverá ganhar força tão rapidamente, ficando no patamar de R$1,70.
Pelo lado comercial, o fluxo cambial estava positivo em US$2,627 bilhões no dia 15, praticamente o mesmo volume de 2007 (US$2,671 bilhões) e de fevereiro último, quando o superávit foi de US$2,665 bilhões. As exportações ficaram em US$6,803 bilhões e as importações, em US$4,176 bilhões. Na avaliação de Voss, o ritmo de compras no exterior deverá continuar forte, já que muitas empresas mantêm a intenção de investimento, aproveitando a demanda interna aquecida e o dólar enfraquecido para comprar máquinas e equipamentos.