Título: Caiado e Stephanes batem boca na Câmara
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 20/03/2008, Economia, p. 31
Em discussão sobre embargo da UE à carne do Brasil, deputado acusa ministro de defender frigoríficos e é contestado
BRASÍLIA. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) protagonizaram ontem exaltado bate-boca na audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara para discutir o embargo da União Européia à carne bovina brasileira. O clima esquentou quando Caiado, após mostrar vídeo com imagens de irregularidades na certificação de carne, atacou o ministro, dizendo que Stephanes não entende nada da área e acusando-o de defender interesses de certificadoras e frigoríficos, em detrimento de pecuaristas.
Indignado, Stephanes reagiu:
- Quando você era menino, eu visitava as fazendas de seu pai e me hospedava lá. Essas denúncias são velhas e não sou polícia para resolver problemas de cartel.
Caiado rebateu Stephanes, também com voz alterada.
- Quem o ministério representa? As certificadoras, os frigoríficos? O Parlamento Europeu passou a ditar as regras e o ministério acata? - indagou Caiado. - Vossa excelência é um pára-quedista na agricultura. Não representa o setor.
Stephanes reagiu com ironia e citou parte de seu currículo para mostrar experiência no setor:
- Prefiro o senhor como médico do que como defensor dos pecuaristas.
Em momentos de maior tensão, o presidente da Comissão, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cortou várias vezes o som dos microfones, apertou a campainha e pediu calma aos dois.
A ira de Caiado tem como pano de fundo a escolha das 106 fazendas habilitadas a vender carne para a UE desde o mês passado, sendo 87 de Minas Gerais. Caiado ameaça ir à Justiça contra a lista e tenta apoio da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Caiado avisou o ministro que a Comissão fará um anteprojeto para mudar o sistema de rastreamento do gado. Para ele, são as propriedades, e não o gado, que têm de ser certificadas. Stephanes lembrou que não foi responsável pela aceitação das regras da UE e reconheceu que o Brasil errou:
- Fizemos mau negócio, quando aceitamos regras que sabíamos que não íamos cumprir (em 2000). Temos uma espada sobre nossa cabeça e temos que tirar essa espada.
COLABOROU Eliane Oliveira