Título: Brasil é um dos principais países de origem
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 23/03/2008, O País, p. 8

Das redes de exploração de brasileiras, foram identificadas 32 vias de entrada na Espanha, a maioria por Portugal

MADRI. O Brasil é um dos três principais países de origem de mulheres para a exploração sexual. Do outro lado, está a Espanha, um dos cinco principais países de destino, assim como Itália, Holanda, Portugal e Venezuela. Das redes de tráfico de brasileiras, foram identificadas 32 vias de entrada na Espanha. A maioria, por Portugal. As redes vão mudando constantemente sua forma de agir para driblar as autoridades nos controles de fronteiras. Esses dados foram reunidos pela ONG espanhola Accem. No entanto, quantificar as vítimas dos grupos mafiosos é tarefa, por enquanto, impossível, segundo afirmam os especialistas tanto da polícia como de ONGs: sem denúncias não há como atacar essas redes.

- O Brasil é o principal país de origem das mulheres vítimas de redes de tráfico de pessoas que chegam à Espanha - afirma Gentiana Susaj, coordenadora da Rede Espanhola contra o Tráfico de Pessoas da Accem. - Muitas brasileiras sabem que vêm à Espanha para exercer a prostituição. Ao chegar aqui e ver que a situação era muito pior do que imaginavam, acham que não podem denunciar. Isso está errado. Mesmo que ela saiba que vem para ser prostituta, se ela for enganada sobre as condições, isso pode caracterizar ação de rede de tráfico.

Das batidas policiais de rotina, em 2005, em 1.263 clubes de prostituição espanhóis, foram contadas 20.284 prostitutas, das quais 20.035 eram estrangeiras. A nacionalidade predominante é a brasileira: 5.015, seguidas das romenas (4.175) e das colombianas (2.388). As latino-americanas representam 60,79% do total.

Brasileiras raramente trabalham nas ruas

As brasileiras costumam ter entre 18 e 25 anos e filhos para sustentar que ficaram no Brasil. Elas chegam à Espanha, principalmente através de Portugal, e raramente trabalham como prostitutas nas ruas. Seu primeiro destino é a Galícia (Vigo, Coruña, por exemplo). Depois de percorrer boa parte dos clubes e apartamentos de prostituição do norte da Espanha (Astúrias, Navarra) são enviadas para outras partes do país. O preço por programa é, em média, 25 euros.

- Muitas mulheres nem sabem em que cidade estão nem a quem pedir ajuda. Elas costumam ficar um mês em cada clube ou em cada apartamento onde recebem os clientes. Os donos desses lugares as tratam como mercadoria e por isso existe muita rotatividade. As enviam de um clube a outro, de uma ponta a outra do país. Acham que devem oferecer constantemente novas caras aos clientes. Dessa maneira, dificultam que façam amizades entre elas e, com isso, ficam mais vulneráveis ainda - explica Ramón Esteso, coordenador de Inclusão Social de Médicos do Mundo, que dispõe de um projeto de auxílio às prostitutas, sendo que 17% são brasileiras.