Título: PT e PSDB poderão ter agenda comum, sem se fundirem
Autor: Vasconcelos , Adriana
Fonte: O Globo, 23/03/2008, O País, p. 10
Prefeito diz esperar decisão do partido para discutir nome
Em meio a um embate dentro de seu próprio partido para fechar uma aliança com o governador tucano Aécio Neves nas eleições deste ano, o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, admite que esse pode ser um embrião para a construção, a médio prazo, de uma agenda comum com o PSDB no país. Diz que já passou o tempo em que o PT precisava ter cabeça de chapa em toda eleição, torce para que Aécio se aproxime do seu grupo político e admite que pretende disputar o governo de Minas em 2010, cargo também desejado pelo ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, seu colega de partido.
Como estão as negociações entre PT e PSDB para o secretário Márcio Lacerda ser o candidato a sua sucessão?
FERNANDO PIMENTEL: Estão avançadas. Mas não tem um nome. O secretário Márcio Lacerda é meu amigo, pessoa qualificadíssima, mas ainda não chegamos na etapa de discutir nome. Neste momento precisamos aprovar dentro do PT a tese da aliança.
O senhor acha que o diretório do PT vai autorizar?
PIMENTEL: O que eu recolho das conversas com os dirigentes é que eles estão convencidos de que é necessário respeitar as peculiaridades locais nesta eleição. Se formos para São Paulo, o PT está claramente em oposição ao PSDB, mas aqui em Belo Horizonte não temos um clima tão acirrado. Nossos dirigentes têm maturidade para entender essa lógica e vão respeitar cada peculiaridade. Não vão tentar forçar situações dentro de uma camisa-de-força nacional, que não cabe para as eleições locais.
As resistências partem mesmo de uma minoria?
PIMENTEL: Há algumas correntes, hoje minoritárias, que se opõem ao entendimento. É um pouco o PT do passado, que, para consolidarmos o partido, precisávamos ter candidato próprio em toda e qualquer disputa. Desde o condomínio do prédio até a Presidência da República. Isso já passou. O PT é hoje um partido que tem o presidente da República, está nacionalmente inserido, e não precisamos usar nossa legenda sempre como cabeça de chapa.
O presidente Lula tinha dado aval para essa aliança, mas o ministro Hélio Costa e o vice José Alencar questionaram isso ao se contraporem ao chamado "Pimentécio"...
PIMENTEL: Eu nunca disse que o presidente deu ou deixou de dar aval a qualquer iniciativa minha. A única coisa que disse e repito é que o presidente Lula está, sempre esteve e estará informado dos meus movimentos. Respeito a iniciativa deles, mas estamos numa aliança em defesa da cidade e queremos buscar o ministro e o vice para essa posição.
O ministro e o vice querem atrair Patrus Ananias na ação contra a aliança PT-PSDB...
PIMENTEL: Patrus é um amigo meu de 30 anos e está acima dessas pequenas coisas. Provavelmente em 2010 vamos estar num quadro estadual inédito, porque teremos três nomes muito bem avaliados para uma possível candidatura de governador: o do Patrus, o do ministro Hélio Costa e o meu. Os três são da base do presidente Lula, e não vejo por que não possa surgir um acordo entre esses três postulantes.
E se o governador Aécio Neves for para o PMDB, como andam dizendo? Seria o melhor dos mundos para Minas?
PIMENTEL: Ele nunca mencionou para mim essa hipótese, mas como um homem experiente saberá tomar a decisão. Claro que, como amigo dele, torço para ele vir mais para o lado de cá, mas é só uma torcida.
O senhor acredita que a aliança que se desenha agora em Belo Horizonte possa se repetir no cenário nacional em algum momento?
PIMENTEL: Em 2010, não. Está muito perto. Não temos como pensar em algo tão audacioso num curto espaço de tempo. Mais para a frente, com certeza. Diria que, a médio ou longo prazos, PT e PSDB podem caminhar para ter uma agenda comum, sem se fundirem. (Adriana Vasconcelos)