Título: Telecurso 2000, remodelado, vira Novo Telecurso
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 23/03/2008, O País, p. 12

De 1995 a 2008, programa da Fundação Roberto Marinho instalou 27 mil telessalas em todo o país; agora será aperfeiçoado

XAPURI (AC). Estudar é uma aventura para os alunos da floresta. Até chegarem a uma sala de aula, muitas vezes, são horas de caminhada, com chuva e sol a pino. Mas não há reclamação. Aprender a ler e escrever, e expandir os conhecimentos, são conquistas das quais 400 crianças e jovens que vivem na região dos seringais, no interior do Acre, não abrem mão. Há seis anos, tempo em que dura a parceria entre o governo do estado e a Fundação Roberto Marinho, eles freqüentam as aulas do Telecurso 2000, que, a partir de amanhã, será remodelado e ganhará outro nome: Novo Telecurso.

O Acre é apenas um dos estados em que o Telecurso foi adotado como uma política pública permanente de educação. O Telecurso é responsável pela formação de mais de cinco milhões de alunos em todo o país. Governadores de outros oito estados participarão amanhã, às 19h, do lançamento do Novo Telecurso, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo. O projeto, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), incluirá no currículo do ensino médio disciplinas como filosofia, artes plásticas, música, teatro e sociologia.

A Escola Júlio Martins, localizada em plena floresta amazônica, num assentamento no seringal São Pedro, é um exemplo do alcance das telessalas. E do esforço de alunos e professores. Fica distante 70 quilômetros da cidade de Xapuri. Para chegar lá, é preciso enfrentar um longo trecho a pé. Para não ter que encarar todo dia a missão inglória ¿ e praticamente impossível ¿, o professor Lissandro Augusto não volta para a casa durante a semana. Ele dorme na escola e só reencontra a família nos fins de semana.

¿ É um sacrifício que vale a pena. Além de ser estimulante chegar aqui e encontrar um aluno usando um chinelo de dedos, todo enlameado e, ainda assim, com um sorriso no rosto. A sala é tudo para ele ¿ disse Lissandro.

As escolas da floresta no Acre são construções simples, sempre de madeira. Há um ritual comum entre os cerca de 400 alunos das 19 turmas da área rural de Xapuri: antes de entrar na sala, todos tiram os chinelos e tênis e assistem às aulas descalços, para não sujar as salas.

Na Escola Tupá, o drama do aluno se confunde com o do professor. Antônia Beleza de Lima, professora da turma de ensino fundamental e médio, mora em Xapuri, onde deixa uma filha pequena. Mas, durante a semana, ela também dorme na escola e, por segurança, sempre há um aluno que lhe faz companhia. Os alunos levam refeição de casa para a professora.

¿ Morro de medo e sempre durmo com a luz acesa. Os alunos dizem que tem onça e outros bichos nessa região ¿ disse Antônia.

Nessa região, e também em outras cidades do estado ¿ em todo o Acre são 1.800 alunos ¿ o chamado Projeto Poronga tem permitido, ao longo dos últimos anos, levar aos estudantes carentes não apenas material didático mas uma metodologia de ensino que privilegia e aproveita a história de vida desses alunos.

Um dos propósitos da parceria com o Acre e os demais estados é reduzir a defasagem idade-série, uma distorção na qual alunos mais velhos cursam séries atrasadas.

¿ O Telecurso está legitimado e é uma alternativa pedagógica para a educação básica. Tem sido adotado como uma política pública ¿ disse Vilma Magalhães, gerente-geral de Educação da Fundação Roberto Marinho.

Uma das características dessa metodologia é a proximidade na relação do professor com os alunos. Geralmente, são turmas pequenas, de até três ou quatro estudantes numa sala. O professor conhece o dia-a-dia do aluno.

¿ O professor é um mediador pedagógico, um facilitador. É o educador moderno, e não aquele que trata o aluno como um número entre tantos ¿ disse Vilma Magalhães.

As telessalas são equipadas com TV, aparelho de DVD, aparelho de som, dicionários, Atlas e mapas. Mas as aulas não são baseadas apenas nos vídeos. Os programas de TV são exibidos em 15 minutos, e o conteúdo é aprofundado com livros e discussão em sala entre professor e aluno.

De 1995 a 2008, o Telecurso instalou 27 mil telessalas em todo o país. No total, 30 mil professores foram treinados e capacitados pela Fundação Roberto Marinho, que tem parceria com 1.500 instituições educacionais. O número de fitas distribuídas com as aulas chega a 1,8 milhão de unidades. Ao todo, 24 milhões de livros foram distribuídos para os alunos do programa.

Além de ampliar e reformular seus conteúdos, o Novo Telecurso vai atender aos alunos portadores de deficiência auditiva, vai estar disponível em DVD e terá legendas e linguagem de sinais. Também será criado um portal de internet, que entrará no ar amanhã, e exibirá fotos, filmes e making of das gravações e curiosidades dos programas.