Título: Focos do vírus se multiplicam
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2009, Mundo, p. 18

Casos de pessoas que contraíram a doença sem ter ido ao México são detectados na Alemanha e no Reino Unido. Ásia registra infecções.

Do México, ele se espalhou para pelo menos 16 países, infectou cerca de 368 pessoas e matou 10. O vírus H1N1 começou ontem a apresentar um comportamento que preocupa especialistas. Pela primeira vez desde o início da atual pré-pandemia, a medicina detectou diferentes focos da doença em um mesmo dia. Na Alemanha, uma enfermeira de 42 anos da cidade de Landshut, a 72km de Munique, se contaminou ao entrar em contato com um paciente de 37 anos que havia retornado do México recentemente. A mulher está isolada no Hospital da Universidade de Regensburg, no estado da Baviera. O Reino Unido, por sua vez, confirmou nas últimas horas dois casos de contágio indireto. O escocês Graeme Pacitti, de 24 anos, foi infectado ao estar com o casal Iain e Dawn Ashkam, os primeiros britânicos a desenvolver a doença. Um homem de 42 anos, morador do sudoeste da Inglaterra, também contraiu o H1N1 sem ter ido ao México. O governo canadense também reconheceu

Em Regensburg, o alemão Eric Pöhlsen, de 27 anos, disse que boa parte dos 150 mil habitantes da cidade mantém a calma. ¿Eu não tenho visto ninguém de máscara nos ônibus ou nas ruas¿, disse à reportagem, em entrevista pela internet. ¿Não tenho medo. As primeiras notícias que vieram do México eram ruins. Havia mais de mil doentes e cerca de 100 mortes, uma letalidade de 10%. Mas antes da confirmação do primeiro caso em meu país, os números do México foram revisados para baixo. Para mim, essa doença parece algo não mais do que as ondas comuns de gripe¿, acrescentou.

Altamente letal ou não, o vírus chama a atenção de infectologistas de todo o mundo, que admitem sua imprevisibilidade. Por e-mail, o norte-americano Brian Currie, vice-presidente do Montefiore Medical Center ¿ um hospital situado no bairro do Bronx, em Nova York ¿, afirmou ao Correio que o H1N1 mutou-se o bastante para ser considerado potencialmente pandêmico. ¿O que permanece sem resposta é com que eficiência ele será capaz de se espalhar entre humanos¿, explicou. ¿Se o vírus começar a se disseminar rapidamente a partir do foco original, creio que a Organização Mundial de Saúde (OMS) vai aumentar o nível de alerta para 6.¿ Esse cenário configuraria uma pandemia global.

Hotel De fato, para o H1N1, não existem mais fronteiras. O vírus chegou ontem à Ásia: doentes foram isolados em Hong Kong e na Coreia do Sul. França e Dinamarca também confirmaram os primeiros casos. A cidade chinesa de 7 milhões de habitantes vive um drama em particular. O hotel Metropark Wanchai ¿ um luxuoso quatro estrelas ¿ foi selado e isolado pela polícia depois que um hóspede de 25 anos testou positivo para o vírus.

O rapaz chegou a Hong Kong vindo do México, depois que sua aeronave fez conexão em Xangai. Pelo menos 300 funcionários e hóspedes do hotel estão em quarentena. Emissoras de TV locais mostravam policiais protegidos com máscaras guardando todas as entradas do prédio. Especialistas foram vistos desinfetando o apartamento ocupado pelo paciente, que foi imediatamente levado a um hospital. O Correio entrou em contato por telefone com o Metropark Wanchai, mas a recepcionista disse que não estava autorizada a dar informações. O governo local declarou situação de emergência sanitária.

Na Coreia do Sul, a vítima é uma religiosa de 51 anos, que estava em quarentena desde terça-feira, sob suspeita de ser portadora do vírus. Segundo a agência de notícias Yonhap, citando um responsável do Ministério da Saúde, testes comprovaram a presença do H1N1 no trato respiratório da paciente. Enquanto isso, a doença se alastra pela Europa. A França reconheceu seus dois primeiros casos: os pacientes recebem tratamento em um hospital de Paris e evoluem bem. A Dinamarca também admitiu o primeiro episódio de gripe suína.

O infectologista Brian Currie acha que apenas o tempo dirá se a epidemia está se acelerando. Ele considerou complicada a situação na cidade de Nova York, onde 50 casos de contaminação foram contaminados. ¿A temporada regular de influenza está durando mais que o comum¿, afirmou. ¿Como o rápido teste de gripe não pode diferenciar o vírus de influenza humano do suíno, nem sempre temos certeza de qual provoca as infecções observadas.¿

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-------------------------------------------------------------------------------- OMS contra alarmismo

Do Washington Post

Autoridades da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertaram ontem a opinião pública a não tirar conclusões precipitadas sobre a virulência do H1N1, causador da gripe suína. Em entrevista coletiva via telefone, Gregory Hartl, porta-voz da OMS, lembrou que a devastadora gripe espanhola começou de forma bastante moderada na primavera de 1918, ¿apenas para reaparecer no outono do mesmo ano com uma `vingança¿¿. A pandemia matou pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o planeta. ¿Seria negligente de nossa parte não levar isso extremamente a sério. Se até o fim ela permanecer como uma pandemia moderada, ou se alguém puder evitar o pior da doença seria fantástico¿, disse. ¿As pessoas deveria agir com o bom senso, em vez de ter pânico.¿

A OMS previu que levará de quatro a seis meses para o desenvolvimento de uma vacina contra a nova variante da gripe. A vacina já usada contra a gripe sazonal provavelmente não oferece proteção, já que o H1N1 é geneticamente distinto. Segundo Marie-Paulie Kieny, diretora da Iniciativa para Pesquisa de Vacina, um organismo da OMS, os laboratórios estão se apressando para produzir uma vacina. ¿Ao menos que haja um sinal muito iminente de que isso (a pré-pandemia) não vai continuar, parece-me que muitos fabricantes a terão¿, disse.

Ao mesmo tempo, a OMS admitiu que é prudente se preparar para um surto global de graves doenças e mortes. ¿Se gastarmos uma quantidade de tempo nos preparado e se ela (a pré-pandemia) permanecer moderada e nem tantas pessoas morrerem ou ficarem gravemente doentes, então teremos sorte e deveremos ficar felizes¿, afirmou Keiji Fukuda, diretor geral assistente da OMS, em entrevista à agência de notícias Canadian Press.