Título: Oposição obtém vitória na eleição em Taiwan
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 23/03/2008, O Mundo, p. 40

Candidato que defende maior aproximação com a China ganha Presidência e promete fortalecer laço comercial

PEQUIM. O candidato do partido de oposição Koumintang (Nacionalista), Ma Ying-jeou, ganhou as eleições para a Presidência de Taiwan com 58% dos votos dos 13 milhões de eleitores que compareceram às urnas ontem, 16 pontos percentuais acima do candidato Frank Hsieh, do Partido Democrático Progressista (PDP), hoje no governo. Com uma plataforma que defende maior aproximação com a China sem a perda da autonomia política da ilha, o ex-prefeito de Taipé Ma Ying-jeou vai governar Taiwan com a ajuda de um Parlamento onde o Koumintang já possui maioria desde janeiro.

A violenta repressão da China contra manifestantes que pedem mais liberdade para o Tibete reduziu a margem de vitória do Kuomintang, mas não foi capaz de tirar de Ma a vitória.

¿ O taiwanês está bem mais preocupado com o futuro da ilha e há uma sensação geral de que Ma trabalha com Pequim para resolver anos de tensão política e militar no Estreito de Taiwan ¿ afirmou George Tsai, professor da Universidade de Cultura Chinesa de Taipé. ¿ A nova geração de taiwaneses sabe que o futuro da ilha será definido pelos chineses dos dois lados do estreito.

Chance de diálogo a partir de maio

¿ Eu quero reiterar minha política sobre a China: nada de unificação, nada de independência e nada de uso da força. Eu sempre disse que, se fosse eleito, discutiria com Pequim vários assuntos. Vou proteger Taiwan, não apenas sua identidade, mas sua segurança com todas as minhas forças ¿ disse Ma Ying-jeou.

Desde 1949, quando os nacionalistas chefiados por Chiang Kai-shek perderam a guerra civil para os comunistas chineses e fugiram para Taiwan sob a proteção dos EUA, a ilha se considera um país, enquanto Pequim faz questão de dizer que Taiwan é uma província rebelde. Após anos de ameaças respaldadas em milhares de mísseis apontados para ambos os lados, pode haver diálogo a partir de maio, quando o Kuomintang assumir a Presidência da ilha.

¿ Eu já disse várias vezes que este país não é o Tibete, nem Hong Kong. Então vamos manter este lugar democrático do jeito que está ¿ disse o futuro presidente.

Em seu programa de governo, Ma Ying-jeou deixou claro que pretende acabar com a campanha independentista liderada pelo atual presidente de Taiwan, Chen Shui-bian, do PDP. Ele propõe um tratado de paz que ajude a desmilitarizar o estreito que separa o continente da ilha, tornando o clima político mais ameno.

Ma Ying-jeou também quer mais diálogo com Pequim para que a ilha se beneficie do vigoroso crescimento chinês, especialmente a sua gigantesca indústria tecnológica, a que mais investe na China. Um dos carros-chefes do programa do Kuomintang é o fim das limitações de investimentos diretos em ambos os lados. Com todos os limites, há US$100 bilhões de investimentos taiwaneses na China hoje, especialmente em alta tecnologia.

Como esperado, o referendo convocado pelo presidente Chen Shui-bian sobre a independência da ilha perdeu nas urnas. Apenas 36% dos eleitores votaram na proposta do governo da ilha de se candidatar a um lugar nas Nações Unidas como República de Taiwan, e não mais como República da China. Era preciso que mais de 50% votassem para que a consulta fosse válida. De toda a forma, a votação manda um recado para o presidente eleito Ma Ying-jeou. Afinal, dos 36% que votaram, nada menos que 94% disseram sim à idéia. Isso equivale a cerca de seis milhões de eleitores, um grupo que não se pode ignorar.