Título: Chile, o novo eldorado da América do Sul
Autor: Roldán, Moisés Ávila
Fonte: O Globo, 23/03/2008, O Mundo, p. 41

Boom econômico das duas últimas décadas atrai centenas de milhares de imigrantes e muda perfil do país

SANTIAGO. ¿E verás como apreciam no Chile o amigo quando é forasteiro¿, diz a parte final de uma canção típica do folclore chileno, que faz alusão à hospitalidade de seus habitantes. Para os chilenos que vivem no exterior, escutar essa melodia gera saudade, lágrimas e emoções. Mais de meio século depois que se compôs ¿Se vais ao Chile¿, os chilenos devem pôr à prova agora a capacidade que têm de fazer justiça a essa letra.

A crise econômica, social e política que afetou diversas nações do continente nos últimos 20 anos obrigou muitos habitantes da região a abandonarem seus países em busca de uma vida melhor. Com o passar dos anos, ¿a terra das oportunidades¿ deixou de ser a Europa ou os Estados Unidos. A estabilidade econômica e a modernidade que o Chile começou a alcançar tornaram mais próxima a possibilidade de emigrar que muitos sul-americanos buscam.

Entre 1999 e 2002, o fluxo migratório em direção ao Chile aumentou 75%, segundo o censo populacional realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Dessa forma, enquanto em 1999 os estrangeiros chegavam a 105 mil, em 2002 já somavam 185 mil. A grande maioria dos imigrantes continua chegando de países vizinhos como Peru, Bolívia e Argentina.

¿ Esta mudança chama atenção. O Chile pode se transformar num país receptor e tem de ficar atento a suas políticas sociais para ver como faz para receber todo esse novo contingente humano ¿ comenta a pesquisadora Andrea Cerda, da Universidade Diego Portales.

Um terço dos imigrantes é proveniente do Peru

De acordo com recentes estimativas das autoridades migratórias, os estrangeiros no Chile representam 1,6% da população total. A cifra, em 2008, supera as 290 mil pessoas. A maioria ¿ cerca de 100 mil ¿ é do Peru.

¿ Nós, peruanos, sabemos fazer de tudo. Não corremos de nenhum trabalho. Nos damos bem com crianças, cuidamos dos idosos, sabemos consertar coisas... Por outro lado, aqui os chilenos impõem muitas condições e há trabalhos que não querem fazer. Os peruanos não tiram trabalho (dos chilenos), mas, sim, preenchem um vazio ¿ teoriza a freira Fresia Martínez, diretora de uma casa de acolhida para imigrantes.