Título: Professor só tem aumento em ano eleitoral
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 26/03/2008, O País, p. 10

EDUCAÇÃO: Cursos de medicina sem qualidade também poderão ser fechados; Haddad diz que vestibular é um horror

Governo já fez acordos para dar reajuste a docentes de universidades este ano e em 2010, anos eleitorais

SÃO PAULO. Os professores brasileiros ganham muito mal e só têm aumento de salário em ano eleitoral. A afirmação é do ministro da Educação, Fernando Haddad, que considerou "inadmissível" que metade dos professores do país ganhe menos que o piso nacional de "apenas R$950", ainda não aprovado no Congresso.

- O professor brasileiro ganha mal mesmo. O salário só aumenta em ano eleitoral. Depois é só arrocho - disse o ministro, em sabatina promovida pela "Folha de S.Paulo".

Professores de universidades federais estão entre as dez categorias de servidores que já fecharam acordo salarial com o governo - para pagamento este ano e até 2010, também ano eleitoral. Os reajustes para a categoria variam de 20,5% a 61,8% e deverão ser diluídos em três parcelas, sendo que a primeira será paga agora em março, ano de eleições municipais. As outras parcelas serão pagas em julho de 2009 e julho de 2010.

Como forma de melhorar a remuneração do professor, além de propor o piso nacional, segundo o ministro, o governo está criando um sistema nacional de formação de professores.

- Se você fizer um censo e perguntar quantos são formados nas universidades públicas, vai encontrar menos de 15%. Temos de aumentar o percentual de professores formados em boas escolas - defendeu.

Haddad confirmou o corte de 13 mil vagas em cursos de Direito de 23 faculdades cujos cursos foram reprovados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), como antecipou ontem O GLOBO, e anunciou que o MEC deve anunciar em maio processo semelhante em cursos de medicina.

Para o ministro da Educação setores do ensino superior privado cresceram de forma abusiva, e por isso cursos mal avaliados devem ser fechados pelo MEC.

- Houve um abuso desnecessário na expansão de parte do setor privado. Há vagas que foram abertas sem critério e processos seletivos com critério menor ainda. Não é razoável que uma faculdade não faça um processo seletivo para ver se o aluno tem condições de ingressar em um curso de Direito - afirmou Haddad.

O ministro criticou o "horror" que é o vestibular no país.

- É um horror. Não orienta o currículo do ensino médio, desperdiçando talentos, e não tem conteúdo específico - criticou, citando como exemplo a prova de física, que pode derrubar um aluno ótimo em outras áreas.

Haddad informou que já se reuniu com reitores das instituições federais para estudar mudanças nos vestibulares. Ele defendeu a posição adotada desde o começo de sua gestão, de que o governo assuma a regulação do ensino superior.

- Se o Estado avalia e o mercado regula, a tendência é de que a competição seja por preço. Agora, se o Estado avalia e regula, a tendência é que a competição seja por qualidade.