Título: Cartão: oposição decide convocar Dilma
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 26/03/2008, O País, p. 12

FH abre mão do sigilo dos cartões na época de seu governo; PSDB e DEM pedem que governo Lula faça o mesmo

BRASÍLIA. A oposição afinou ontem o discurso, abandonou as ameaças de deixar a CPI do Cartão Corporativo e intensificou o embate com os partidos governistas. Em reuniões separadas, PSDB e DEM resolveram agir em duas frentes para evitar o esvaziamento da comissão. As duas siglas prometem jogar pesado hoje para aprovar os requerimentos que pedem a quebra de sigilo das contas da Presidência da República e a convocação da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique mandou carta ao Senado em que abre mão do sigilo dos cartões no seu governo.

Ao mesmo tempo, os tucanos vão pedir ao Ministério Público Federal que investigue as origens do suposto dossiê com informações sobre os gastos com contas B do ex-presidente Fernando Henrique e de sua mulher, Ruth Cardoso, de 1998 a 2001, revelado pela revista "Veja".

Marisa diz que chamar Dilma é questão de honra

As notícias sobre o suposto dossiê transformaram a convocação da chefe da Casa Civil na principal polêmica entre os integrantes da CPI. A presidente Marisa Serrano (PSDB-MS), que na semana passada ameaçou deixar a comissão, endureceu o tom e afirmou que a denúncia transformou a convocação de Dilma numa questão de honra para a oposição.

- Ela tem que vir à CPI para se explicar. Se esse dossiê vazou da Casa Civil, a única pessoa que pode explicar isso é a ministra - disse a senadora tucana.

- Vamos apresentar uma representação para que o Ministério Público investigue a elaboração e o vazamento do dossiê - disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Mas a bancada governista ainda tentará novo acordo com a oposição para adiar, mais uma vez, a votação dos requerimentos que envolvem Dilma e os cartões sigilosos da Presidência. Marisa disse que vai pôr os pedidos em pauta. Se ela não recuar, os petistas prometem usar a ampla maioria para soterrar os planos da oposição.

- Vou trabalhar para que esses requerimentos sejam rejeitados - anunciou o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ).

Luiz Sérgio admitiu negociar a convocação de responsáveis pelo controle interno da Casa Civil, mas descartou a ida da ministra Dilma:

- O Brasil inteiro sabe que o presidente Lula delegou à ministra a tarefa de coordenar o PAC. Não vamos transformar a CPI num "big brother" e ficar escolhendo quem vai para o paredão - afirmou o petista.

O PSDB também já estuda a possibilidade de reconvocar à CPI o chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, para que ele diga se sabia do suposto dossiê sobre os gastos secretos da Presidência no governo Fernando Henrique. Ontem, Marisa Serrano encarregou assessores de conferirem a transcrição do depoimento de Hage, na última quarta-feira. Ela quer estudar as referências que o ministro fez a gastos com caviar, um dos produtos de luxo que teriam sido comprados com recursos de contas B na administração tucana. Marisa quer apurar se a fala de Hage comprova que ele tinha conhecimento prévio das despesas.

- Isso provaria que o dossiê foi mesmo orquestrado pelo governo - disse a senadora.

Ao atender ao convite da CPI para depor, Hage fez referências à compra de caviar, ao dizer que o ministro do Esporte, Orlando Silva, teria sido vítima de preconceito por ter usado o cartão corporativo do governo para pagar uma tapioca.

- Sei que vamos encontrar algo muito além de uma tapioca de R$8 na rubrica de alimentos. A compra de alimentos em Brasília, seja tapioca, McDonald"s, Piantella ou caviar, é a mesma coisa - afirmou Hage no seu depoimento, antes de informar que a CGU já estava levantando os gastos com as contas B do governo desde 1998, para encaminhar à CPI.

O DEM, que também cogitava a hipótese de abandonar a CPI, recuou e promete brigar hoje para aprovar um requerimento solicitando relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre auditorias feitas em gastos sigilosos da Presidência.

- Não vamos abandonar nada. Só em um caso extremo, se nossos requerimentos forem sistematicamente rejeitados. Nossa intenção é ir até o fim da investigação, que deverá ser ampla, geral e irrestrita. O relatório do TCU será a base dessa investigação para despolitizarmos o ambiente da CPI - defendeu o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).