Título: Aids cresce entre os jovens homossexuais
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 26/03/2008, O País, p. 16
Ministério da Saúde lança plano para combater o avanço da doença entre gays, bissexuais e travestis no país
BRASÍLIA. Ao anunciar ontem um programa para tentar reduzir a incidência de Aids entre homossexuais, o Ministério da Saúde informou que o percentual de casos da doença entre jovens com esse comportamento sexual aumentou nos últimos anos. Em 1996, 24% dos jovens entre 13 a 24 anos com Aids eram homossexuais e bissexuais. Em 2006, esse percentual saltou para 41%. A estimativa do Ministério da Saúde é que 1,5 milhão de brasileiros, com idade entre 15 a 49 anos, praticam sexo com outro homem.
O "Plano Nacional de Enfrentamento da Aids entre Gays, Homens que fazem sexo com homens e Travestis" prevê metas até 2011. Entre elas estão treinar profissionais de saúde para lidar com essa população, apoiar projetos de combate à homofobia, garantir acesso dos homossexuais ao Sistema Único de Saúde (SUS) e denunciar agressões contra os gays.
Até 2006, foram registrados cerca de 55 mil casos de Aids em jovens com idade entre 13 a 24 anos. Mais da metade desses infectados, 31.355, é do sexo masculino e 23.609 são mulheres. De 1980 até junho de 2007, foram notificados 474.273 casos de Aids no país, mas o governo estima que a população que vive com HIV chegue a 600 mil pessoas. Cerca de 180 mil pacientes estão em tratamento.
O plano de combate à Aids entre homossexuais foi lançado no Ministério da Saúde na presença de dezenas de gays e representantes de entidades de defesa dos homossexuais e travestis. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, participou do evento e disse ser fundamental priorizar ações desse segmento da população. O ministro aproveitou para anunciar a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas e Travestis que irá ocorrer em junho.
A campanha tem o slogan "Faça o que quiser, mas faça com camisinha". Num canto, há a recomendação aos homossexuais para usarem sempre gel lubrificante à base de água.
Folheto explica formas de contrair a doença
Serão distribuídos também 500 mil folhetos com informações sobre como se infecta ou não com o vírus. Na parte "assim não pega" o panfleto destaca: beijo na boca, talher, banheiro, pelo ar, sexo com camisinha, abraço e aperto de mãos e picada de inseto. E como "assim pega", aparecem: sexo oral sem camisinha, sexo sem camisinha e compartilhar agulhas e seringas. O material será distribuído em locais freqüentados por gays, como bares, boates, saunas e festas.
Segundo o Programa de Aids, a probabilidade de um gay ser infectado pelo HIV é onze vezes maior que entre heteressexuais. E a probabilidade de um gay desenvolver Aids é dezoito vezes maior que um heterossexual. A diretora do Programa de Aids, Mariângela Simão, cita a homofobia e o medo de assumir a própria homossexualidade como motivos para que os jovens estejam mais expostos ao vírus.
- Sabemos como os jovens, de maneira geral, tratam o assunto homossexualismo nas escolas. Não é fácil para um jovem gay assumir essa condição. Há preconceito e discriminação - disse Mariângela Simão.
O presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, fez elogios ao plano.
- O governo tem se mostrado sensível à nossa causa, é um avanço. Estamos saindo do armário. É o caminho para atingirmos a cidadania plena.