Título: Tropa militar vai reforçar o combate
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 26/03/2008, Rio, p. 19

De 300 a 400 homens farão atendimento inicial em barracas de campanha

BRASÍLIA e RIO. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que as Forças Armadas devem ceder um contingente de 300 a 400 homens para reforçar o combate à dengue no Rio. Os militares vão trabalhar em duas frentes: na erradicação dos focos de mosquito e no atendimento inicial aos pacientes, em barracas de campanha. O ministro disse que as tropas já estão de prontidão, mas não deu prazo para o início dos trabalhos. Ele afirmou que os termos da cooperação serão decididos pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e pelos integrantes do gabinete de crise criado na semana passada para enfrentar a epidemia.

O principal objetivo do reforço militar é reduzir a superlotação das emergências dos hospitais públicos. De acordo com Jobim, as Forças Armadas vão atender doentes em locais a serem escolhidos pelo gabinete de crise. Com isso, a cidade deve reviver cenas da intervenção de 2005, quando o governo federal assumiu o controle de hospitais municipais e os militares atenderam a cerca de 28 mil pessoas em dois hospitais improvisados.

Jobim frisou que, agora, não serão montados hospitais, mas barracas de campanha, "para efeito de diagnóstico, tratamento inicial, hidratação etc". Ele se recusou a tomar parte na troca de farpas entre o prefeito Cesar Maia e o ministro Temporão, mas deu um recado contra a politização da epidemia:

- Nós temos é que combater a dengue e resolver o problema da população.

Na tenda de Campo Grande, espera de mais de 2 horas

Ontem, segundo o Ministério da Saúde, cem profissionais começaram a reforçar o atendimento de pessoas com dengue na rede federal. Hoje serão mais 70. Outra medida anunciada é que moradores das áreas mais afetadas receberão ligações do ministério, alertando para os sintomas da doença e ensinando a combater o Aedes.

No primeiro dia de funcionamento das três tendas para hidratação montadas pelo governo estadual para tratar pacientes com dengue, a de Campo Grande foi a que teve o maior tempo de espera ontem: mais de duas horas, no início da tarde. A de Santa Cruz ficou em segundo lugar, com cerca de uma hora, pela manhã. A diferença dessas duas para a de Jacarepaguá é que elas estão dentro de Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da rede estadual. O governador Sérgio Cabral disse ontem que já está sendo montado um serviço de transporte para levar pacientes com dengue das emergências dos hospitais para as tendas.

Em Campo Grande, além das críticas à demora, as pessoas na fila reclamavam dos mosquitos no local. Dentro das latas de lixo da área externa da UPA, havia água acumulada. Outra queixa era em relação à prioridade para atendimento. Magda Adriano levou sua sobrinha de 2 anos, Flávia Alessandra, à unidade. A menina chorava muito e estava com febre, dores de cabeça e no corpo. - Estou aqui há mais de uma hora esperando. Minha sobrinha está gritando de dor e não me deixam entrar - reclamou Magda. - Nós viemos do Hospital Rocha Faria (estadual). Eles não estão examinando quem está com sintomas da dengue. Mandam para cá.

A Secretaria estadual de Saúde vai apurar se esse procedimento, que não faz parte da rotina da unidade, está sendo adotado. Em Santa Cruz, de manhã, não havia doentes enviados pelo Hospital estadual Pedro II. A maior rapidez no atendimento, em relação aos hospitais públicos, era motivo de alívio para pacientes como Tânia Lúcia.

- Fui domingo e ontem (anteontem) ao Pedro II e o atendimento foi muito ruim. O exame demorou quatro horas para ficar pronto. Aqui esperei menos de uma hora e o hemograma ficou pronto em meia hora.

Em Jacarepaguá, apenas 17 pessoas procuraram a tenda, até as 16h de ontem. Com movimento reduzido, o atendimento era imediato.