Título: BC: crédito baterá recorde histórico este ano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 26/03/2008, Economia, p. 30

Empréstimos vão representar 40% do PIB, atingindo R$1,1 trilhão. Leasing para comprar veículos quase dobra

BRASÍLIA. Em meio às preocupações da equipe econômica com a explosão do consumo, o Banco Central (BC) anunciou ontem projeção de que o volume de crédito na economia fechará 2008 em patamar histórico: 40% do Produto Interno Bruto (PIB), bem acima dos atuais 34,9% e representando R$1,1 trilhão. O indicador será alcançado a partir de um crescimento entre 20% e 25% dos financiamentos este ano, uma desaceleração em relação aos mais de 30% de 2007. Até agora, a relação crédito/PIB mais alta no Brasil foi registrada em janeiro de 1995, 36,8%.

O BC está tranqüilo com a qualidade dos empréstimos e seu ritmo de expansão. Mas, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou que há excessos pontuais (no setor automobilístico, por exemplo). Segundo fontes disseram ao GLOBO, partiu do BC, que enxerga riscos, a preocupação inicial com o financiamento de automóveis.

BC alerta para forte entrada de clientes de baixa renda

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esquivou-se ontem de traçar qualquer panorama de preocupação. Considerou que o movimento de expansão está adequado de modo geral. Mas ressaltou que em alguns segmentos o impulso é consideravelmente maior. Segundo ele, as operações de leasing para a compra de veículos são uma das que mais cresceram nos últimos meses. Em fevereiro, elas somavam R$71,824 bilhões, quase o dobro do resultado de um ano antes.

- As taxas de crescimento são bastante confortáveis, não são muito fortes no conjunto - disse Lopes, acrescentando que em outros países, como Chile, a relação crédito/PIB supera 60%.

Os prazos de financiamento também têm crescido. No mês passado, para pessoas físicas, ficou em 447 dias corridos, 71 dias a mais do que em fevereiro de 2007. Apesar do movimento de alta no volume de crédito e nos prazos, a inadimplência ainda está controlada. No mês passado, ela praticamente ficou estável, com queda de 0,1 ponto percentual, para 4,3% no geral.

Para Lopes, porém, as instituições financeiras têm de ficar atentas porque há forte entrada de novos consumidores, sobretudo de baixa renda, no mercado de crédito e que não possuem histórico de risco. Ele, no entanto, diz que aparentemente as avaliações de risco estão sendo feitas de forma correta, pois os atrasos de pagamentos não saíram do controle.

O acesso mais amplo ao crédito não preocupa só o governo. Para o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, a curto prazo o país não tem condições de segurar uma expansão de 20% do volume de crédito. Isso porque a inadimplência tende a crescer, ainda mais com novos consumidores no mercado - os "iniciantes" já são mais de 20% dos que pegam empréstimo.

- A expansão (do crédito) tem se dado na base da pirâmide - disse Solimeo. - Temos de começar a reverter esse crescimento até o fim do ano, até porque a base ficará difícil de controlar.

Após alta em fevereiro, juro para consumidor cai este mês

Depois do aumento nos últimos dois meses, os juros médios no país começaram a recuar em março, puxados pelas modalidades dirigidas a pessoas físicas. De acordo com o BC, até o dia 12 passado, as taxas haviam cedido 0,2 ponto percentual, para 37,2% ao ano, sendo que para o consumidor a queda já era de 1,3 ponto, para 47,7% ao ano. Para as empresas, o movimento foi inverso, com alta de 0,9 ponto, chegando a 25,7% ao ano.

Isso ocorreu, segundo Altamir Lopes, porque as instituições financeiras já assimilaram as medidas anunciadas no início do ano pelo governo, que elevou a tributação nos empréstimos para compensar o fim da CPMF:

- A expectativa é que (as taxas) parem de subir em março - disse o chefe do Departamento Econômico do BC

Em fevereiro, os efeitos da cobrança de mais impostos ainda eram sentidos. As taxas médias de juros subiram 0,1 ponto percentual no período, atingindo 37,4% ao ano. Para a pessoa física, o aumento médio foi maior: 0,2 ponto percentual, para 49% ao ano. O maior avanço foi nos juros do cheque especial: de 135,3% para 135,7% ao ano.

Na contramão, vieram as operações de crédito consignado - com desconto em folha de pagamento e risco baixo para os bancos. Seus juros médios recuaram no mês passado de 29,4% para 28,7% ao ano. Ao todo, o volume de crédito consignado somou R$67,1 bilhões no último mês, com uma alta de 31,1% sobre o mesmo período de 2007.

Ainda segundo o BC, o spread médio (diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos) subiu em fevereiro 0,3 ponto percentual, e chegou a 26 pontos.