Título: Zoghbi muda discurso e tenta livrar Agaciel
Autor: Rocha, Marcelo; Colon, Leandro; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 07/05/2009, Política, p. 04

Mais um caso apurado pela polícia do Senado não deve dar em nada. Denúncia contra ex-diretor pode ser arquivada por falta de provas

A Polícia Legislativa do Senado foi palco ontem do primeiro passo do acordo que vem sendo costurado nos bastidores para abafar a crise instalada após as denúncias do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi. O servidor e sua mulher, Denise Zoghbi, prestaram depoimento aos policiais e negaram todas as acusações feitas à revista Época sobre um suposto esquema de corrupção ligando terceirizadas, o ex-diretor-geral Agaciel Maia e a Primeira-Secretaria. ¿Não fizeram nenhuma responsabilização nem de senador nem do ex-diretor¿, disse o advogado do casal, Antonio Carlos de Almeida Castro.

Uma eventual conivência da polícia do Senado no caso levou, enfim, os senadores a mudarem o discurso e exigirem a presença de autoridades externas para não só acompanhar os trabalhos como também aprofundá-los. ¿Essa história da polícia do Senado é uma coisa bem simples: não está convencendo a sociedade¿, disse ontem no plenário o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). ¿O povo vai olhar com suspeição e achar que somos uma grande patota¿, afirmou Cristovam Buarque (PDT-DF).

O presidente José Sarney (PMDB-AP) reforçou, por exemplo, que já pediu a presença de um procurador da República para atuar no episódio. ¿Vamos demonstrar justamente que o Senado assume suas responsabilidades, e irá até as últimas consequências no esclarecimento desse caso¿, disse. Na terça-feira, Sarney divulgou uma nota defendendo a polícia da Casa, justificando que ela tem amparo do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar suspeitas internas.

Nas quase quatro horas de depoimentos, Zoghbi e Denise, separadamente, restringiram-se a negar as acusações feitas à Época. Disseram que as declarações que levantaram suspeitas contra Agaciel e os senadores Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Morais (DEM-PB), na conversa de duas semanas atrás com os repórteres da revista, foi um mal-entendido num momento de tensão. Na saída, os dois não conversaram com a imprensa. ¿Temos que lembrar que esse depoimento de hoje (ontem) foi feito em cima da reportagem da Época, dentro de uma ocorrência registrada pela Polícia Legislativa¿, afirmou o diretor da polícia da Casa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, lembrando que, somente em caso de materialidade essa ocorrência seria transformada em inquérito. Por enquanto, a depender dos testemunhos de João Carlos e Denise Zoghbi, não houve essa materialidade.

Pedro Araújo descartou, pelo menos por enquanto, convocar o ex-diretor-geral Agaciel Maia para prestar depoimento. ¿Se o denunciante não trouxe novidade, não vejo a necessidade de convocá-lo (Agaciel) por enquanto¿, afirmou o servidor.

Consignado Os policiais não questionaram Zoghbi e Denise sobre as suspeitas de que tenham empresas em nome de laranjas que fazem intermediação de empréstimos consignados entre bancos e funcionários do Senado. Uma das empresas que seriam do casal, a Contact, recebeu R$ 2,3 milhões do banco Cruzeiro do Sul para atuar como correspondente bancário no Senado. Os dois já negaram que tenham relação com a empresa. Segundo o advogado do casal, esses questionamentos deverão ser feitos em 10 dias, em outra investigação aberta pela Polícia Legislativa para apurar o caso do empréstimo consignado.

Por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público Federal, o procurador Gustavo Pessanha Veloso declarou ontem que, em casos anteriores, foi a Polícia Federal que teve competência para atuar nesse tipo de investigação do Senado. O procurador, que iniciou na semana passada apuração preliminar para investigar os negócios do casal Zoghbi com crédito consignado, deve decidir até sexta-feira se abre um inquérito criminal sobre o caso.